VIAGEM AO PERU III

Estou de volta, como prometido. Este é o terceiro módulo da narrativa que escrevi sobre interessante viagem ao Peru. Registrei os acontecimentos em livro sob o título de Machu Picchu é do Peru! Nele, narro visitas que ficarão gravadas nas memórias deste escrevinhador e dos oito amigos que me honraram com suas companhias durante a feliz excursão. Compartilho com você momentos e informações culturais do país anfitrião, omitindo os nomes de meus acompanhantes para salvaguardar-lhes a identidade. Por não ter sido autorizado, também não reproduzirei fotografias que ilustram a proveitosa viagem. Espero que minha modesta verve seja suficiente para satisfazê-lo.

Eis, pois, o que lhes direi: A extensão territorial do Peru é de 1.285.216 km2. O país é maior que o Reino Unido, Japão, Alemanha, Espanha e França. Está dividido em 25 regiões, abrangendo 196 províncias, subdivididas em 1.869 distritos. Sua população supera os trinta milhões de habitantes.

O país é banhado pelo Oceano Pacífico e emoldurado pela Cordilheira dos Andes. Limita-se com Equador, Colômbia, Brasil, Bolívia e Chile. A costa litorânea do Peru estende-se por 3.080 quilômetros.

Trata-se de um território que contempla abundante biodiversidade e diversificada cultura milenar, atraindo grande número de visitantes mundo afora, ávidos por conhecer sua geografia, história, atrativos culturais, turísticos e gastronômicos.

Três mil acontecimentos festivos são celebrados no Peru, anualmente, diversificados em festas populares e religiosas. As mais concorridas tanto no litoral como nas montanhas andinas e na selva amazônica são as carnavalescas. Dados informativos de 2013 dão conta de que, naquela época, cerca de um milhão e quinhentos mil pessoas visitaram Machu Picchu, principal atração turística do país.

O povo peruano é educado, religioso e hospitaleiro. Origina-se das culturas andina e ocidental, com destaque para as genealogias italiana, japonesa e espanhola. Os descendentes de raças nativas têm aparência genética inconfundível: baixa estatura, fisionomia rude e pele parda.

No país são faladas quarenta e três línguas andinas e amazônicas. 83,9% dos peruanos expressam-se em castelhano. Os idiomas quéchua e aymara são falados por 13,2% e 1,8% da população, respectivamente. A língua primitiva denominava-se Runa Simi, significando habla del hombre, também conhecida por quéchua. A diversidade de línguas faladas em solo peruano decorre da existência de vários grupos étnicos, com modos de vida, expressões artísticas, culturais e religiosas próprios.

Trinta e um por cento dos peruanos ostentam diploma de nível superior, nas mais variadas atividades do conhecimento humano. Apenas 7,4% são analfabetos. No tocante à religião, 81,3% são católicos e 12,5% evangélicos, o que significa dizer que 93,8% da população professam o cristianismo.

A cozinha peruana é de dar água na boca. A comida é saborosa, rica, variada e tida como uma das melhores do mundo. Cada região do país tem seus próprios pratos. A multiplicidade da cultura peruana favoreceu o enriquecimento de sua cozinha. O prato que mais a identifica é o ceviche de salmão, linguado ou camarão, popularizado mundo afora. A população humilde, todavia, alimenta-se, basicamente, de milho de variados tipos e cores, e de batatas de diversificado tamanho e formato, produtos esses também presentes nas mesas mais abastadas. A chirimoya é outra delícia a satisfazer o paladar peruano. E o nosso, que aprovamos o seu sabor.

O tradicional chiri uchu é um prato típico cusquenho, feito à base de cuy, animalzinho identificado por nós como porquinho da índia. Nos Andes, o cuy tem muita aceitação por sua carne macia e de requintado sabor. De fáceis cuidados para criá-lo, alimenta-se exclusivamente de vegetais. Essa delícia é servida em destacados estabelecimentos gastronômicos e nas ruas das cidades, por ocasião das festividades de Corpus Christi.

Ao falar de cuy me vem à lembrança momentos de descontração antecedentes às nossas refeições diárias, quando foram servidas gene-rosas doses de Pisco Sour, excelente batida liquidificada com limão, gelo, clara de ovo e açúcar. A tradicional bebida peruana aproxima-se de nossa caipirinha, diferenciada pelo acréscimo da clara de ovo.

O Pisco é produzido da uva, cultura introduzida no país pelos espanhóis, em 1551. As mudas de videiras trazidas das Ilhas Canárias e do sul da Espanha foram plantadas nos vales de Ica, perto da cidade de Piskos, daí, o nome da popular aguardente, que é submetida à fermentação em garrafões de argila.

Urubamba é a capital da província do mesmo nome, situada na região e no departamento de Cusco, de cuja capital também denominada Cusco, falarei adiante.

O frio que insistentemente nos incomodava em nossa chegada foi amainado pelo uso dos agasalhos recém-retirados dos armários de nossas casas no Brasil, onde se encontravam protegidos do mofo.

A população de Urubamba é de 57.000 habitantes, espalhados por 1.439,43 quilômetros quadrados, distribuídos por seis distritos. São eles: Chinchero, Huayllabamba, Machu Picchu, Maras, Ollantaytambo e Yaucay.

A respiração ofegante em face da elevada altitude resultou suavizada após mascarmos folhas de coca oferecidas no aeroporto de Cusco. O mal-estar provocado pela baixa pressão de oxigênio ocorrida em grandes altitudes é chamado de soroche, hipobaropatia, mal das montanhas e doença de puna. Não raro, provoca hemorragia nasal e até edema pulmonar.

A plantação de coca ocorre em zonas quentes e úmidas, a uma altitude entre 800 e 2.000 metros acima do nível do mar. A erva é considerada mágica e sagrada para a população nativa. Dizem que as folhas de coca, inteiras e de boa aparência, quando agrupadas em conjunto de três, são chamadas de Kintu e proporcionam a interação do ser humano com as divindades andinas.

Na época inca, a coca era consumida apenas pela elite, massificando-se no período colonial. Suas propriedades nutrientes são cálcio, ferro, fósforo, vitamina A e B2, além de outras substâncias necessárias ao organismo humano.

Por todos os dias de nossa estada em plagas peruanas, bebemos chá de folhas de coca e mascamos as inocentes folhinhas da erva. Também chupamos balinhas feitas da folhagem da planta. Só assim enfrentamos a elevada altitude, às vezes, superior a três mil metros.

Uma suv da empresa de turismo nos transportou durante o percurso Cusco-Urubamba, que durou pouco mais de uma hora. Viajamos por acidentada estrada, cansados e sonolentos, porém, atentos aos precipícios e às curvas fechadas que se descortinavam ao longo da via.

A elevação e o apertado espaço rodoviário, aberto ao tráfego nas escarpas das montanhas da Cordilheira dos Andes, desafiavam a nossa coragem. Não era para menos. Essa impressionante cadeia montanhosa, a mais extensa da terra, cobrindo mais de 7.000 quilômetros, contempla elevações superiores a 6.000 metros.

A grande altitude provoca a escassez de oxigênio e interfere em nosso bem-estar físico. A natureza, sábia, dotou pessoas nativas da região, os quéchuas, por exemplo, descendentes dos incas, com o coração maior que outros humanos, permitindo-lhes a necessária oxigenação e circulação sanguínea.

Chegamos ao Hotel Mabey cansados, famintos e passados de sono. Desfeitas as bagagens, fomos ao restaurante do estabelecimento matar a fome matinal. Tomamos lauto café e depois nos dirigimos aos nossos apartamentos para merecido repouso.

Dormimos até às 16h00. Reconfortante banho quente nos livrou do cansaço. Em seguida, retornamos ao restaurante do hotel para descontraída palestra, alguns goles de vinho e de Pisco, esta última, tradicional bebida elaborada da uva. Uma delícia!

Hoje, abusei de sua paciência, meu caro leitor. O texto embora pareça extenso, serviu para despertá-lo com vistas às próximas leituras, que não serão breves, mas informativas e culturalmente interessantes.

Até breve!