VIAGEM AO PERU II
Estou de volta, para narrar recente viagem ao Peru. Como disse, inicialmente, a narrativa será desmembrada em fascículo, a fim de não torná-la cansativa para o leitor. Eis, portanto, o segundo tomo desse passeio cultural aos Andes peruanos.
Os incas instituíram um calendário solar prático e funcional, composto de 12 meses de 30 e 31 dias, integrando as fases da lua e aparição de constelações estelares. O calendário solar é obra no nono imperador Pachakuteq, de quem falarei mais tarde.
Eles também se baseavam em um calendário agrícola que lhes permitia selecionar as sementes, semear o solo, determinar a época da semeadura, com vistas à melhoria da qualidade, do maior aproveitamento do produto e da armazenagem dos grãos.
A prática médica era ligada à religião e à magia. Os incas admitiam ser as doenças passíveis de cura pelo uso e aplicação de ervas, água e minerais, cujas propriedades medicinais consideravam mágicas.
Em escavação procedida em sítio arqueológico próximo a Cusco, encontraram uma mandíbula com um dente substituído por outro confeccionado em pedra andesita (rocha cinza-escuro), colocado à pressão, a exemplo dos implantes praticados pela endodontia moderna.
Os incas acreditavam que todas as coisas eram dotadas de espirito. Rendiam culto ao Sol, astro preferido entre as divindades. Também veneravam a Lua, as estrelas, o Arco-íris, a água, as montanhas, fenômenos da natureza, acidentes geográficos, antepassados mumificados e até animais. A serpente anunciava a chegada da água; o puma representava a força, o poder e a destreza; e o condor era considerado símbolo da sensatez, da sabedoria e mensageiro dos deuses.
Os incas desenvolveram técnicas de reconhecido valor para aproveitamento da água necessária à espécie vivente. Construíram represas, canais, aquedutos e poços para armazenagem e distribuição do precioso líquido a lugares de difícil acesso.
A civilização inca era uma sociedade agrária por excelência. Para vitalizar as plantações, adubava a terra com excrementos de morcegos e de animais domésticos. Igualzinho ao que fazemos hoje com a utilização do esterco de gado bovino e de galinha.
Pachakuteq, cujo nome significa Reformador do Mundo ou Transformador do Mundo, foi o nono imperador inca, a quem se atribui a vitória na guerra contra os Chanka, resultando na expansão territorial e econômica do império; a realização de diversas obras, como a fundação da cidade de Cusco; a reconstrução do Templo do Sol; o planejamento e edificação de Machu Picchu; e o calendário solar de doze meses. Ele governou o império inca de 1438 a 1471, isto é, por trinta e um anos. Monumento em homenagem ao grande imperador Pachakuteq encontra-se erguido na Praça das Armas, em Cusco.
O imperador Tupaq Yupanki governou a nação inca de 1471 a 1493, reputado como bom administrador e responsável pela abertura de estradas. Foi sucedido por Wayna Qhapaq, famoso por ter consolidado o domínio inca, sua expansão territorial e desenvolvimentista.
A história antiga consigna outras etapas do desenvolvimento cultural do império inca, a respeito das quais não farei comentários. Conforme disse em parágrafo anterior deste texto, não o faço por desconhecimento e pela limitação desta despretensiosa narrativa.
No ano 1533, o conquistador Francisco Pizarro derrotou e capturou o imperador inca Atahualpa, exigindo-lhe ouro e prata em troca de sua libertação. Pizarro recebeu uma sala abarrotada de prata e, ainda, dois quartos cheios de ouro que se acumulava até o nível dos braços erguidos de Atahualpa. Nem por isso o conquistador mostrou-se clemente. Assassinou o imperador e submeteu o império conquistado ao domínio espanhol, supremacia que se estendeu até 1821, ano da independência do Peru.
Atahualpa sabia do desembarque dos espanhóis em seus domínios, todavia, imbuído de autoconfiança e de excessiva curiosidade, não se deu conta de que o invasor o superaria em táticas e armamentos sofisticados em relação aos dele. Ademais, o chefe inca encontrava-se fragilizado pelas contendas com os panakas. O leitor não deve confundir a palavra “panaca” usada em nosso linguajar, significando pessoa ingênua, com a expressão panaka, referida neste texto, que corresponde a uma das dez divisões da nobreza inca.
Outras etnias além dos panakas, conquistadas por Atahualpa e insatisfeitas por terem sido submetidas ao seu domínio, uniram-se aos conquistadores espanhóis, facilitando, assim, a histórica derrota.
O Peru foi a última colônia a ser libertada do domínio espanhol. Sua independência resultou conquistada em 28 de Julho de 1821, graças à intervenção bélica do argentino José de San Martin e do venezuelano Simón Bolivar.
Bem, caro leitor, vou ficando por aqui. Na próxima oportunidade, ou seja, no terceiro fascículo desta narrativa, você adicionará novas informações às já obtidas até agora.
Até breve!