Na insônia da noite passada eu...
Choveu aquela chuva toda. Mas antes da chuva foi a ventania correndo o risco de arrancar o telhado fora. O coração acelerou as batidas do medo que deu. Então depois a chuva parou e tudo ficou silencioso, limpo e claro; a mata, o céu, o portão, a parede do vizinho, o quintal, o canteiro, o pé de boldo lá fora perto do campinho, a placa com o nome da rua pendurada no poste... Tudo mesmo. A chuva lavou o bairro inteiro. Pois bem. Eu mesmo continuei gripado, com uma dor no peito quando tossia. O jeito foi assistir um filme já que não conseguia fazer mais nada. Nada mesmo. Eu até que tentei. Assim que acordei peguei o léxico e li uns dois capítulos mas não deu mais. Então eu pensei: que tal lavar a louça, “limpar a casa” ouvindo música? Beleza, mais e depois? Baixei um filme, nina, e assisti. Beleza, mais e depois? Depois coloquei o disco do Grieg para ouvir e comecei a escrever isso aqui. Beleza, mais e depois? Depois sei lá. O disco acaba. A dor da tosse continua. A noite cai e apaga a limpidez das coisas janela afora... A vida continua.
Tá bom, beleza, mais e depois? Depois você posta essa merda pra ser ignorado e bem feito. Por que é só isso mesmo que você sabe fazer, escrever e postar porcarias iguais a essa! Ao invés de ser uma pessoa normal como as outras. Postar coisas sobre futebol, escrever indiretas fúrias para alguém, postar self, postar banners com frases engraçadas, mensagens de Deus... E tudo mais que gente normal faz.! Mas não. Você prefere insistir com essas bostas!
E você com essa gripe, ainda vai ver a Elza amanhã?
Anoiteceu e aqui estou ele assistindo a mais um filme. Esperando que o enredo dele me pegue a concentração de uma vez para que se sossegue em mim mais uma noite... Eu, que tenho essa mania de ficar enrolando o cabelo com as pontas dos dedos da mão esquerda... Eu que que de uns tempos pra cá venho evitando sair pro mundo lá fora, a não ser pra ganhar algum dinheiro. Minha vontade era de fazer igual a Emily Dickinson, mas bem poderia mudar de ideia, se acaso alguém aparecesse em meu portão com um convite para o cinema. Ou quem sabe, me trouxessem um presente feito com suas próprias mãos. Isso me alegraria. Pois gosto das pequenas gentilezas. Talvez um pequeno gesto desses me fizesse querer sair. Ter ânimo. Também gostaria de ter um mestre, um professor de carne e osso, de corpo e alma, e não bits numa página na internet, “o senhor Google, o senhor site, o senhor ponto com ponto BR”. Eu sou um ignorante, mas, ainda bem que um ignorante curioso... Não, eu não quero ter um ídolo, nem um herói, nem um Deus, nenhum guru...
Hoje mais cedo eu fiz mais um dos trabalhos da mina irmã, dessa vez sobre o absolutismo francês. Tirei as informações de que precisava de um livro que ela e seu grupo pegaram emprestado com o professor deles. Como é complicado fazer um resumo de um resumo que talvez tenha sido tirado de outro resumo! Fora a angustia que dá por não ter tempo ou animo suficiente para ir mais fundo no assunto. É muita informação para um cérebro só. Mal acabo esse, daqui a pouco já aparece outro trabalho...
O filme, aos seus 23 minutos e 48 e oito segundos, acaba de me pegar, coincidentemente junto com a gripe que surgiu em mim ontem de manhã. Lá fora a Madilene dorme em seu cesto. Ela não sofre de insônia como eu. Ela não fica acordada feito uma maluca assistindo filme, escrevendo e enrolando o cabelo com a mão direita (eu sou canhoto, e precisei da canhota pra escrever) até quase o dia clarear.