NOITE DE SABADO
Esta crônica é dedicada a alguem muito especial.
NOITE DE SABADO
Era noite de sabado!
O relógio acabara de marcas 23 horas!
Lá fora, uma chuva fina teimava em cair, trazendo um frio molhado, que penetrava pelas frestas da janela do apartamento e fazia aquele homem sentir um arrepio...
Ele dirigiu-se à geladeira, dela retirou uma garrafa de vinho tinto suave que há pouco ali colocara. Procurou e achou o abridor apropriado, retirou a rolha da garrafa. Pegou uma taça no armário do barzinho e a encheu. Tampou a garrafa com a própria rolha e depositou-a num balde de metal no qual, antecipadamente, já tinha colocado algumas pedras de gêlo.
Dirigiu-se à janela do apartamento e ficou contemplando o balé dos pingos da chuva que batiam no parapeito da sacada.
Seus pensamentos fugiram para um passado recente, acontecido ali mesmo naquele ambiente.
Lembrou-se daquela noite, quando tambem chovia. Ele, abrindo uma garrafa de vinho tinto e ela, linda, maravilhosa, suave e tranquila, chegou-se a ele, com duas taças na mão.
Beberam a princípio e depois se embriagaram nos braços um do outro, de amor, paixão, tesão. Amaram-se de todos os jeitos, de todas as formas. Depois exaustos, mas felizes, se aconchegaram um no outro, como um côncavo e um convexo e adormeceram.
Na manhã seguinte e após tomarem o café da manhã, ela pediu que ele a escutasse sem interrompê-la. Disse ela, então, que precisava de uma definição dele com relação ao futuro dos dois, que não queria ser apenas sua amante nos dias em que, ambos, se encontravam dominados pela força vulcânica da paixão. Ela, continuou, gostaria de ter um relacionamento mais concreto, mais seguro, mais constante, onde os dois pudessem construir um ninho de amor, de paixão, de cumplicidade, de amizade, já que ambos por não serem mais tão jovens, precisavam ter um porto seguro onde pudessem ancorar, com tranquilidade e firmeza, a nau de suas vidas.
Ela pediu, justamente, o que ele não poderia lhe oferecer. Então, ela sorriu, pegou sua bolsa, deu-lhe um beijo na testa e sem dizer mais nada, dirigiu-se à porta da saída do apartamento. Após abrí-la, voltou-se e ainda disse que, caso um dia ele resolvesse lhe dar esse porto seguro, que a procurasse. Quem sabe, talvez, ainda não fosse tarde. Quem sabe, ainda, ela não teria encontrado esse porto com outra nau.
Depois jogou-lhe um beijo com as pontas do dedo da mão, adentrou no elevador e se foi. Ele nada disse.
O barulho da freada de um carro na rua o trouxe à realidade daquele sabado de chuva. Lá fora, a chuva diminuira bastante. Ele tornou a encher a taça de vinho, sorveu o líquido quase que de uma só vez. Escutou os acordes da música que tocava no radio: "... e quando a noite vem, fico louco prá dormir, só prá ter voce nos meus sonhos, me falando coisas de amor..."
Desligou o radio, dirigiu-se ao quarto, trocou de roupa, deitou-se e dormiu...
Lá fora, a chuva parou totalmente e aos poucos a lua apareceu no céu e tomou conta da noite.
O gêlo que estava no balde de metal derreteu-se e transformou-se em agua. O resto do vinho na garrafa ficou quente. Na manhã seguinte ele teria que o jogar fora...