A GÊNESE
A GÊNESE
Deus criou um mundo maravilhoso e criou o homem...
- Como, criou o homem? Estás te referindo ao homem no sentido genérico, humanidade, ou ao macho da espécie?
- Se não tivesses interrompido o fluxo de meu pensamento, não haveria necessidade de pergunta tão inoportuna. Presta atenção e ouve:
- Deus criou o homem, o macho da espécie...
- Ora, pois, se Deus criou o macho, quem criou a fêmea?
- Saberás, se não mais interromperes. O macho foi o princípio, mas era, então, apenas um polo positivo, só e triste. Sua existência não tinha razão de ser. Um polo positivo, sozinho, é uma força incompleta, em desiquilíbrio, inútil.
Deus pensou: “Criar outro polo positivo não resolverá o problema. Forças iguais se afastam e juntá-las à força, neste momento da criação, significará abdicar do projeto ‘humanidade’”.
Aí Deus pensou, pensou e criou o polo negativo. Forças opostas se atraem, se unem e se equilibram. Era a mulher que nascia, complemento exato de polaridade.
- Agora estou entendendo.
E Deus decretou: “A junção deste macho e desta fêmea, em todas as formas naturais, será a receita para uma existência ideal, equilibrada e harmoniosa das potências psíquicas e mentais”.
Esse acoplamento não consiste apenas no ato em si. O que não deve ocorrer é a solidão e só a perfeita sintonia de almas gera paz e mente sã. O ato sexual é o arremate, a consequência liberadora de tensões e geradora de momentos felizes.
O criador dotou os polos de inteligência, deu-lhes vontade própria e todo o mundo por herança.
E eles cresceram, multiplicam-se, encheram a terra e trilharam outros caminhos, todavia o criador, que é bom e justo, não os condenou.
- Ótimo! Bendito polo negativo!
Fpolis, 1980
Escrevi este texto em 1980, durante a faculdade e reencontrei-o agora, juntamente com uma montoeira de escritos abandonados numa pasta