ESCREVER OU MORRER!

Desde o dia 30 de junho, data da IV Plenária da Academia de Cordel do Vale do Paraíba, na Câmara Municipal de Itabaiana, eu estou em estado de graça, feliz com a Comenda Sivuca para Adeildo Vieira, contente com o Título de Cidadão de Fábio Mozart, extasiado com a recepção da sociedade itabaianense para com o Cordel, que parece trilhar os mesmos objetivos do povo do vale do Pajeú, satisfeito com o comprometimento do Secretário de Estado da Cultura, poeta Lau Siqueira, motivado com a chegada dos novos vates aos quadros da ACVPB, Elson Gomes, Marconi Pereira e Antonio Alves.

Agora recebo, pelo facebook, a trova do poeta Silvio Vidal, reverenciando a poeta e dramaturga britânica, Kate Tempest, e a atriz brasileira Roberta Estrela D’Alva, adeptas da poesia falada. O poema de Vidal diz o seguinte:

“Se ter que ter tudo a ver

Mesmo num verso veloz

É escrever ou morrer

Não serei eu, meu algoz.”

Quando eu vi os poetas recém-empossados declamando, como também os ‘veteranos’ Fábio Mozart, Pádua Gorrion, Orlando Otávio, Agenor Otávio, disse-me que a poesia é um caso de vida ou morte. Canta-se para se viver, considerando que o Cordel é uma poesia construída para ser cantada e/ou declamada. D’Alva e Tempest têm muito do Cordel brasileiro. Ambas, como nós, trabalham uma competição de poesia falada, um espaço para livre expressão poética, onde se possa debater questões da atualidade, mas também servir de entretenimento. E asseguram: “Escrever ou morrer!”

D’Alva chega a dizer que “Somos como uma tribo de guerreiros sentados em torno do fogo, trocando histórias. Mas agora o nosso fogo é o microfone.”

A Academia de Cordel do Vale do Paraíba dialoga tanto com a arte de Otto Cavalcanti, representante das vanguardas das artes da Espanha, como com a arte Naif, de um primitivismo moderno, do artista Márcio Bizerril, que são formas de escrever para não morrer.

Em Itabaiana, o poeta Lau Siqueira nos abraçou dizendo que “...em tão pouco tempo a Academia já tem uma grande produção!”

A escritora Rachel de Queiroz disse em certa ocasião: “...eu não gosto de escrever e se eu morrer agora, não vão encontrar nada inédito na minha casa.” Já eu traduzo que Queiroz escrevia para não morrer.

Enquanto a Academia não tiver a sua sede, situação que está sendo cuidada pela diretoria com as bênçãos da SECULT, a nossa ágora será sempre as praças das cidades. E no dia 16 de julho estaremos na praça pública de Itatuba, mobilizando a tradição oral, numa constante mistura do rústico e do sofisticado, no exercício da nossa spoken word.

Sander Lee

Presidente da ACVPB