"FAUNATISMO"

A vida realmente é o bicho. Um burro velho como eu só poderia mesmo chegar a tal conclusão. Na verdade, o que faz da vida o que é são as pessoas. É por elas que o mundo vive dando zebra. Vemos constantemente a vaca indo para o brejo, quando estamos mais felizes do que pintainhos no lixo. De repente, o que nos parece algo simples vira uma espécie de elefante branco empatando nosso caminho.

O mundo está cheio de amigos-da-onça. Gente falsa, que chora lágrimas-de-crocodilo e tem abraço-de-urso. Isso me deixa feito barata tonta e com a pulga atrás da orelha, sempre antevendo a hora em que a cobra vai fumar. Sinto-me raia miúda entre tantos tubarões sociais, faisões que só pensam em dinheiro e luxo, e sei que as gerações só tendem a piorar, pois filho de peixe peixinho é. Não há pau-de-arara que dê jeito nessas e demais traíras, nas velhas peruas de salões, nas cachorras de bailes e tantos outros tipos de vermes que sempre infestaram qualquer ambiente sóciocultural.

às vezes acordo mais tristonho do que um goleiro que acaba de engolir um frango. É aí que me pergunto se sou um homem ou um rato, e me sinto um jeca-tatu; às vezes uma topeira; um sujeito que vive pagando mico. Acabo me conformando com o meu canto, aceitando a máxima de cada macaco no seu galho, para não acabar me tornando papagaio-de-pirata, por tentar aparecer, parecendo quem não sou.

Quero muitas vezes reagir e chutar o pau da barraca. Faço até barulho, mas logo vejo que o que persigo está "assim de gavião" querendo. Volto e concluo que sou realmente um bicho-preguiça; não tenho ânimo para lutar à exaustão pelo meu lugar ao sol; sequer por um mundo melhor. Parece que em cada espaço do mundo existem leões-de-chácara invisíveis impedindo os sonhos de quem não ataca o que deseja como se fosse mais uma hiena faminta caçando na floresta escassa.

Sei que não é necessário ser uma águia, uma raposa ou algo assim para entender o que digo. Mas digo. Quem quiser que mergulhe na realidade nua e crua, depois disto, para ter noção de como levar a vida com serenidade, evitando o tombo fatal. Ou então viva iludido, mais bêbado que um gambá, crendo que tudo é um mar-de-rosas, quando no fundo é uma selva de ouriços.

Perdoem a falta extrema de esperanças no coração e o excesso de grilos na mente. É que já engoli tantos sapos nesta vida, que nem acredito mais em coelho na cartola. No meu pessimismo exacerbado, sou feito cervo espremido pela pantera do pânico. Vejo-me achando, finalmente, que tão certo quanto a vida é o bicho, "se correr o bicho pega... se ficar o bicho come".

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 15/07/2007
Reeditado em 17/07/2007
Código do texto: T565919
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