É provável que isso aconteça contigo também
A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita, começo a desconfiar que não foi propriamente dita.
Mario Quintana
É provável que aconteça contigo também...
Muitas vezes, quando estou cá escrevendo, submerso em meus próprios pensamentos, acabo deixando sem que perceba, de me explicar um pouco melhor. Como se aquele que irá me ler, estivesse dentro da minha cabeça, acompanhando o meu próprio raciocínio. De modo que, o que é obvio pra mim, viesse a ser obvio para o meu futuro fortuito leitor também. Obvio que não será obvio para ele certas nuances no que escrevo. Nós não temos essa intimidade. Certa sintonia, que somente as pessoas que convivem a algum tempo, conseguem uma para com a outra. Essas que só do outro começar uma frase, antes mesmo dele termina-la, já se é sabido do que se trata. Eu mesmo tenho esse tipo de comunicação com a irmã, que as vezes, chega a beirar quase a telepatia...
Eu sei o que quero dizer quando escrevo tal frase, mas será que os que me lerão, também vão saber?
Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse sempre a novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias.
Clarice Lispector
Minhas intenções ao dedilhar palavras nesse notebook e após feito, taca-las nesse site, é a mesma de todos que aqui estão, ser lido e comentado, “afim de inflamar meu ego”. E querer, como disse Fernando Pessoa, “querer não é poder. Quem pode, quis antes de poder só depois de poder. Quem quer nunca há de poder, porque se perder em querer”. São pouquíssimos os que me leem. Desconfio que para tal, eu deveria ser mais comercial, mais “bonzinho”. Não ser esse provocador, muitas vezes indigesto, para as pessoas de moral sensível e hipocrisia latente. Talvez eu devesse realmente tentar ser menos intragável. Procurar dizer mais o que elas querem ouvir, num texto que se desenvolva com um assunto agradável e que tenha começo meio e fim dentro da tradição. Afinal, bom mesmo é ser querido, amado, respeitado, comentado... Fora que, talvez eu não agrade tanto, pela minha falta de habilidade com as palavras. Vá lá também, que tem gente que escrever muito pior do que muá, mais isso não vem ao caso... Porque eu mesmo escrevo para me manter ocupado. E já fazem alguns anos que venho exercitando isso. Muito embora sustentado por elogios e incentivos indiretos, de alguns mentirosos ou poucos entendidos do assunto. Pois esses mesmos que tantas vezes já me disseram que escrevo bem, raramente me leem. Aliás, eles não leem ninguém! Aliás, eles nem gostam de ler! ...
Vocês hão de concordar, que a vaidade humana é algo difícil de controlar. A gente acaba achando que de fato é bom ou faz-se crer nisso sem notar. E eu realmente preciso desse alimento para meu ego, dessa estima, mesmo que falsa, ilusória. O que me resta a não ser escrever, ou melhor, o que me restaria a não ser dedilhar essas mal-acabadas linhas!
... vai ver também que eu só não ganho leitores por falta de bons títulos para os meus textos. Ou quiçá, títulos mais apelativos, que estejam por dentro da notícia atual ...
A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira e ...