Sim, escrevo...
Sim, escrevo. E já vou logo adiantando que não sou muito bom nisso, mas talvez, quem sabe, compense em criatividade. Apesar de me dar muita dor de cabeça, escrever é o que me traz alivio também, o que me faz achar ser útil no mundo, mesmo não sendo. O meu sentido. O meu maior prazer. Estou fazendo isso agora. Me aliviando. Exercitando a escrita. Ouvindo música, Muddy Walters.
Sobre mim?
Apesar de ter meus dias alegres, sinto tédio uma boa parte do tempo e não sei fingir ser feliz como a maioria das pessoas que conheço, faz. Mesmo assim estou bem. Não porque está tudo bom, mas por não ter motivo suficiente para dizer que vai tudo tão mal assim. Além do mais, se for comparada a minha vida com a de tantos desgraçados por ai, provável que eu poderia ser tido até como um cara de muita sorte, isso sim.
Como eu disse, estou bem, porém sinto ainda a necessidade de um sentido maior. Com toda certeza a imaginação me salva de viver uma vida completamente vazia, banal e infinitamente monótona, mas, confesso que vou ainda meio confuso. Não sei exatamente o que quero, entretanto sei o que não quero. Já é bom começo saber pelo menos o que se quer, não achas?
Só nessa semana já fui mais de duzentos pensamentos diferentes. Mudei de ideia tão rápido quanto o imperceptível movimento da luz do dia se metamorfoseando na escuridão da noite. Achei que deveria tantas coisas. Decidi tantas outras. E de repente, já não quis mais, não senti mais, não fui mais... Eu era, eu serei, mas nunca sou.
Quando eu não pensava no sentido das coisas que fazia, as coisas que eu fazia, faziam sentido. Agora sou o que sou sempre querendo ser o que não sou sem querer ser nada. Antes eu era apenas sendo, e era feliz por ser sem saber. Por onde foi que saiu aquele menino de dentro de mim? Deus, sinto tanta falta dele! o menino que adorava ver sua pipa voando no céu, sem questionar o sentido daquilo que era somente um monótono flutuar de vareta e papel ...