Suprimentos
Uma xícara de café agora me faz tão bem, me ponho a saborear o gosto daquele por quem eu guardava tanta repulsa infundada. Algumas diferenças que surgem como se nada fossem, não surtindo efeito algum... Fico com a ilusão de uma mudança – os meus dias não são mais os mesmos, até meu tom de voz mudou –. Aquele sorriso fácil até continua, mas com tanta incerteza e insegurança que já nem sabe se ri das piadas ou de si mesmo. Essa indiferença toda para com o mundo ao redor é suplicante. Funciona como uma anestesia – conforta-me por alguns instantes, e logo em seguida a dor surge em meu peito e chego a confundir tristeza com solidão. Esses segundos a mais que tanto rogo por felicidade vão se esvaindo por essa realidade crua que se despe propositalmente aos inúmeros expectadores revelando um conteúdo nada belo de se admirar. Incrível como continuo a sonhar, a imaginar as trilhas sonoras que se encaixariam em cada momento do dia, a confabular com meus dedos sobre como a vida seria mais feliz se fosse um filme de romance... é como se a essência ainda existisse, talvez ela perdure por minha eternidade de vida, e tomara que sim, mas é tão complicado olhar pro céu e não saber se faz sol ou se chove; é tão doloroso ter um universo ao meu redor e sentir que ele não me acompanha. Por vezes penso nessa cápsula que de repente revestiu-me de uma forma peculiar e transformou-se num escudo inviolável e protetor, porém ao mesmo tempo tão alheio aos mais frágeis sentimentos. São seguimentos estranhos, já me perdi inúmeras vezes nesse labirinto sem fim. Quando me encontro, sinto-me no país de Alice, cheio das maravilhas irreais, burlando regras que acabam me impondo no verdadeiro jogo real da vida. Essa noite de hoje foi tão longa, e talvez a cafeína ainda a faça estender-se por muitas horas. Parece que continuo a fazer escolhas erradas, ou talvez seja uma necessidade de errar e buscar internamente pelos meus suprimentos.