ALÉM DAS CIRCUNSTÂNCIAS
Costumeiramente, quando o sol se ajoelha no horizonte dando adeus a mais um dia, nos recolhemos para dentro de nossas casas e, num gesto quase automático, acendemos as lâmpadas elétricas que, para nossa felicidade, Edson a inventou.
Quando praticamos atos como esse, estamos fazendo algo que supera as nossas possibilidades comuns. Ficamos como que magnetizados pela mesma força que vai além do horizonte para onde o sol se põe, cintilando suas últimas e brandas fagulhas de luz.
Anàlogamente, quando lemos um livro, somente depois de lermos a última página é que começamos, magnetizados, a analisar sobre tudo o que acabamos de ler. Fica sempre no ar, após nossas conclusões, se valerá a pena voltarmos a ler a obra.
Quando o conteúdo do livro nos agrada, não é raro tomarmos nota de alguma observação interessante, escrevermos algo sobre o que acabamos de ler, ou, consultarmos o dicionário em caso de dúvidas sobre algum vocábulo. Esse hábito, por sinal, faz com que ampliemos o norte de nossas intenções de conhecimentos.
Todos os artistas sejam escritores, poetas, escultores, desenhistas, músicos, etc., todos eles, do mais humilde ao mais genial, necessitam admirar algo para poder realizar suas obras. É o magneto da inspiração. E quanto maior for essa inspiração, maior é a possibilidade da obra obter o sucesso esperado.
Nem tudo, entretanto, que escrevemos, pode ser considerado literatura artística. Somente quando o escritor consegue transmitir alguma coisa que toca o coração do leitor ou mostra algo parecido como se o leitor fizesse parte do que está sendo narrado é que fica patenteado o reconhecimento definitivo do escritor. Quando escrevemos com o intuito de elogiarmos alguém que admiramos, aliás, há quem faça isso apenas por interesses pessoais, poderemos ou não agradar a pessoa que elogiamos, mas estaremos muito distantes do fundamento maior da leitura que é a identificação como se o autor fosse parente próximo, não de um leitor apenas, mas de uma grande legião de leitores e, sobretudo, de admiradores.
A prudência e o cuidado ao escrever é característica dos grandes escritores, os quais visam sempre o perfeccionismo. Só depois que o sol das palavras se cansar de iluminar nossos pensamentos em mais um dia que se esvai é que devemos nos recolhermos e mostrar nossas palavras depuradas para as lâmpadas que se ascendem nos candelabros de nossas emoções.