Pelo simples prazer de escrever...

Faz uma semana que o parquinho chegou no bairro. E dessa vez chafurdou seus pés de ferro na lama do campinho lá próximo “a rocinha”. Toda vez que o parquinho vem pra cá, vem também uma temporada de chuvas. Parece que eles combinam antes, o parquinho e a chuva... Hoje particularmente está uma cacofonia de sons dos diabos, porque além da música que saem dos alto falantes do tal parque de diversões, tem também um rádio ligado no volume máximo numa casa. As músicas são ruins de se escutar, isso porque os ritmos e as letras de todas elas são praticamente iguais. Os assuntos e as mesmas notas são repetidos a exaustão. É popular, mas não se compara com o popular de antigamente, como por exemplo Barto galeno, Odair José, Adelino nascimento, amado batista... Na minha humilde opinião, claro. Esses caras de antes caprichavam nos arranjos. Agora a música está cada vez mais pobre, essa é a verdade. Não que eu seja um entendido, mas eu ouço a diferença, e ela é escrachada.

Meu coração está mais acelerado do que de costume. Eu as espero com uma ansiedade exagerada. Sinto esse friozinho da cintura pra cima, por conta da noite gelada que faz. Cadê ela com a menina? Aquela irresponsável. No Nepal houve um terremoto...

“Não tenho dinheiro, nem recursos, nem esperanças. Sou o mais feliz dos homens vivos” Henry miller.

Num bairro próximo daqui desmataram alguns hectares com a intenção de construir futuramente um condomínio privado. Foi assim: num feio dia quando ninguém esperava vieram os operários com suas maquinas e botaram tudo pelo chão. E passados alguns dias, conforme os terrenos eram vendidos e as ruas foram sendo cavadas, asfaltadas e os meios-fios modelados em seu contorno. Mas parou por ai a empreitada. Desde então não foi levantada casa algum. Hoje pra quem olha de longe é como se visse um autódromo sobre um terreno deserto. O que se tornou proveitosa para alguns instrutores de autoescolas darem suas “aulas de direção”, e também para um monte de criança empinar pipa nas férias. Nesses momentos o céu fica repleto de pipas e o clima é de festa, de alegria. Vem gente de tudo que é canto, o que acaba deixando as tardes gostosas de serem apreciadas pelos nossos olhos. De longe já se pode avistar as poucas arvores que restaram com seus galhos coloridos das pipas que caem do céu a todo momento. Imagine uma arvore que no lugar das folhas estão dependuradas pipas coloridas? Uma bela imagem a lá Salvador dali, não?

Hoje mesmo fui até lá de bicicleta. O vento batendo no rosto, a cabeça cheia de pensamentos bons...

De onde será que vem essa coisa mesquinha, infame, reles, vil, que sinto aqui dentro de mim? (Frase vinda do meu inconsciente, copiada de algum livro ou filme? Tosco, tosco, tosco...) Não só eu, como acredito, muita gente por ai também. Porque é tão difícil dar a outra face? Porque será que nunca conseguimos perdoar a quem nos tem ofendido? A mim parece que tanto para grandes ofensas, quanto para as pequenas, o desejo de “vingança” persiste envenenando o espirito (mesmo que muitos finjam que não). Como seria bom me livrar de uma vez por todas das magoas, dos ressentimentos, das amarguras. Deixar pra trás, esquecer, apagar da memória, ou quem sabe o mais difícil, perdoar de verdade!

Claro que, para com os grandes filhos das putas, como alguns burgueses e políticos por exemplo, não dá para relevar. Mas porque não buscar justiça ao invés de vingança? “Vingança”, palavra pesada essa, não acha?

Mas falando das “pequenas ofensas”, como por exemplo o chute que você levou uma vez numa briga. A menina que não te quis. A traição de um amigo. As palavras ofensivas que alguém lhe disse numa discussão... Porque não deixar tudo pra trás e viver no presente. Esquecer o passado e não sofrer tanto pelo futuro?

O bem que não se vê a olho nu é o mal que não aconteceu.

Por que diabos aquela mocetona fez questão de sentar do meu lado no ônibus, mesmo com tantos assentos vagos mais à frente? Mocetona, gostei da sonoridade dessa palavra, imagine se eu trocasse a primeira letra, a letra “M”, pela letra... Peixe bebe água? Era um homem, uma mulher ou o Mary Mason aquele que eu vi passando na rua? Será que os vizinhos da outra casa em que morei, sentem falta das músicas que eu ouvia? Atrasamos, boicotamos, atrapalhamos as engrenagens do sistema naquele dia? Era o pombo ou a pomba que carregava os gravetos no bico e entregava para o seu parceiro no ninho?

Amanda, acho que ela se chama Amanda. Fazia muito tempo que eu e essa garota não nos víamos. Acredito que tenha sido esse o motivo dela ter me olhar com aquela cara de quem diz a si mesmo “Olha, ele ainda existe”. E é claro que eu tratei logo de lhe responder via pensamento telepático também, “Sim Amanda, ainda existo e estou de volta nessa merda”. Eu e Amanda nos conhecemos só de nos ver no ônibus, e realmente acho uma pena nunca termos trocado uma única palavra nesses quase três anos de consciência mutua da existência um do outro...

Madilene, a minha cachorrinha, late da escada desesperada por conta de um cavalo que ela vê passando na rua. No seu pensamento de cão ela diz: “Puta que pariu, olha só o tamanho daquele cachorrão ali”

Tiago Torress
Enviado por Tiago Torress em 11/04/2016
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