Certo dia em uma certa noite
Certo dia em uma certa noite ela apareceu lá na praça e se enfiou entre nós como se fizesse parte da turma há muito tempo. O gordinho seboso logo desconfiou que ela bem poderia ser uma agente secreta. Um espiã disfarçada enviada numa missão pelos nosso inimigos, que no bairro não eram poucos, afim de nos pegar com a boca na botija. Eles sempre conspiravam contra a turma da praça. “Os marginais”, “Os fumadores de drogas”. Claro que esse negócio de espiã foi só um brincadeira do gordinho.
A partir daquele primeiro dia ela aparecia quase todos os dias. Sempre simpática. Sempre amigável como ninguém. Andava com a gente onde quer que fossemos. Só havia duas coisas nela que não agravam muito o pessoal. A primeira delas era sua frescura em não querer comer tudo que lhe dávamos. Principalmente quando o rango era pão com mortadela. Ela preferia passar fome do que comer pão com mortadela. A segundo coisa desagradável nela, ao menos segundo um dos princípios da nossa turma, era sua total submissão.
Não foi por acaso que ela tratou logo de fazer amizade numa casa vizinha ali de onde ficamos. Digamos que o pessoal de lá era economicamente mais abastados de comida do que a gente.
Os dias foram se passando, e apesar dela ter descolado um rango melhor do que o nosso, não nos abandonou. As vezes ela desaparecia por algum tempo. Parava de colar lá na praça. Preferia ficar por ai, indo a lugares que gostava. Foi então que, em um desses passeios, ela nunca mais voltou.
Quando demos por nós de que ela estava desaparecida pensamos em ligar para polícia. Mas de qualquer forma eles não dariam muita atenção ao nosso caso, por motivos óbvios. Alguém sugeriu de irmos aos hospitais. Novamente recuperamos o bom senso, isso também não tinha cabimento.
Desde então surgiram muitas hipóteses sobre seus paradeiro. Uma é que talvez ela tenha sido sequestrada e presa nalguma corrente por alguém que se sentiu no direito de priva-la de sua liberdade. Outra é que esteja morta. Talvez tenha sido atropelada por um carro, já que ela tinha um bendito costume de correr atrás deles.
O que nos restou foi o mistério. Por onde ou o que aconteceu a nossa cachorrinha?