O que nos afasta é bem mais forte do que poderia nos unir.
Um tempo atrás eu fiz a experiência de ficar algum tempo sem sair de casa, sem ver ninguém, sem falar com ninguém. E veja só como são as coisas, realmente deu tudo muito certo. Quase não houve quem me visitasse, ligasse ou mandasse mensagens ou... É provável que nalgum momento tenham perguntado por mim, feito algum comentário, ou pensado sobre o meu súbito desaparecimento, mas fora isso, nada a mais.
Triste da vida fiquei pensando com meus botões: E se eu tivesse morrido? E se ninguém fosse avisado sobre a minha morte? E se não houvesse boatos sobre ela, quanto tempo demorariam pra saber do falecido, no caso euzinho mesmo.
Não estou querendo dizer com isso que não sou agradável a ninguém. Sei que isso também não é verdade. Mas acontece que mesmo esses que me estimam, não sabem nada sobre mim e eu não sei nada sobre eles. Essa é a mais pura e triste verdade. Não criamos o hábito. (Isso não quer dizer também que eu não tenha tentado cativa-los) Não nos aprofundamos na nossa relação. Estamos todos distantes, desconexos, desanimados para algo além do comum. Concentrados em nós mesmos, em nossos próprios problemas. Nossos mundinhos. Sufocados e condicionados pôr tudo a nossa volta. Conformados, satisfeitos ou preguiçosos entre aspas, com o pouco que já conquistamos. Ou pior, descrentes com nós mesmos e com o ser humano, o nosso próximo. Qualquer resquício de esperança de se fazer ao contrário disso, torna-se logo superficial, banal, sem sentido. O que nos afasta é bem mais forte do que poderia nos unir.
O humilde herdou
Se eu sofro assim diante dessa
máquina de escrever
pense em como eu me sentiria
entre os colhedores
de alface em salinas?
penso nos homens
que conheci nas
fábricas
sem qualquer chance de
escapar-
sufocados enquanto vivem
sufocados enquanto riem
de bob hope ou lucille
ball enquanto
2 ou 3 crianças jogam
bolas de tênis contra
as paredes.
Alguns suicídios jamais são
registrados.
Charles bukowski.