Vida, teatro dos disfarces
Ás vezes, no amor, a gente planeja um trajeto feliz e nos tornamos falhos.
Esquecemos os sonhos e a vida mal disfarça a sua futilidade existencial.
Aí, fica fácil estarmos passíveis de enredamentos e tramas e tudo termina em naufrágio.
Passamos a caminhar em direção invertida e sem rumo.
Trocamos o rosto por máscaras e fazemos o teatro dos disfarces, inclusive o das angústias.
Se dependesse de óculos de grau para enxergar a vida eu os ajeitaria no rosto, a todo instante, para ver melhor a convivência.
Confundimos as palavras construtivas e passamos para as ofensas, e depois vem o silêncio e a frieza dos dias.
Precisaríamos ser amigos e amorosos e nunca perdermos a esperança de uma união mais ajustada e saudável.
Se não vamos acumulando espaços vazios e deixando a harmonia se esvair.
A vida vai se tornando empobrecida, emblemática e distante.
E o pior: deixamos de buscar o que nos cumule de um viver prazeroso e alegre.
Deixamos de projetar o conjunto vida e perdemos as melhores oportunidades: de viajar, de dividir contentamentos e prazeres, que vão sendo substituídos pelo trabalho e obrigações profissionais que nem precisariam, necessariamente, tirar nossos espaços.
E passamos a agir às avessas dos prazeres, carregando a vida ao invés de curti-la.
Preciso de uma união que me salve do vazio dos meus 77 anos.
Vivo cheio de ansiedades porque não construímos uma ponte para nos comunicar com acolhimento e boa vontade.
Ao contrário, guardamos rancores, insegurança e medo que um diálogo aberto, ameno e esclarecedor se transforme em desentendimento e mágoa.
Não temos conseguido sequer chegar ao razoável para seguir adiante.
Se não era amor aquilo que chegava até mim, agora é dor aquilo que me extingue.
Cavo o necessário para esconder o espanto e as sílabas reunidas que viram serpente.
De repente, uma linha se estende além da minha geometria e a forma de ver encontra configuração.
Dentro de mim fica o som de um NÃO em tom maior, o aceno do tédio e um retrato do engano.
Minha janela aberta escancara uma vida besta e as muletas causam feridas.
Melhor ficar calado e arredio, para não assumir o efeito das palavras e atos.
Assim, me isolo quieto e quedo.
Agora, domingo é dia de não sei quando.
Renovação não tem pra que nem sequer.
Difícil é sentir a ausência que punge.
Unhas elétricas coçam as hipóteses em busca do que é mais justo.
Por que a vida não cria um mandamento?
“honrarás teu amor para sempre”
E que esse mandamento fosse cumprido com a sagração divina.
Mosqueiro, 22 de setembro de 2011.