Caro vereador (E bota caro nisso. Que beleza de salário em)
Que feio meu caro. Um homem de Deus como você, um representante do povo tão culto e bem intencionado, fazendo esse tipo de insinuações sem pé nem cabeça. Incitando o ódio. Sendo preconceituoso. Então agora quer dizer que quem faz grafite também quebra bancos de praças, vandaliza, rouba pirulito de criancinhas inocentes e bolsa de velhinhas indefesas? Qual seria a ligação entre uma coisa e outra, pelo o amor do seu bom Deus?!
Respeitar o coletivo... Tá bom, mas será mesmo que o coletivo respeita o individual, o indivíduo? O que é arte e o que não é arte? O que pode ou não pode? E porque não pode? E se pode, aonde é que pode? Quais formas de expressão são corretas e quais não são? Existe espaço para todas elas? O que você pessoalmente seria capaz de fazer para expressar artisticamente o que sente como individuo: Sua raiva, seu ódio, seu amor, sua revolta, seu protesto, suas crenças, sua contestação, sua marca, sua provocação, suas angustias, seu vazio, sua... seu... Da forma que sente?
Tome como EXEMPLO a pichação, tida por muitos como a não-arte. Desconsiderada, repudiada, excluída, marginalizada, bestializada... E por que pichação não é arte? Por ser uma praticada subversiva que foge da estética que é aceita pela maioria? Por que esses jovens marginais “rebeldes e revoltados” picham sua casa, seu prédio, seu comercio, sem lhe pedir permissão? Se eles pedissem seu consentimento você o daria? Ou pichação é algo que não deve ser feito de forma alguma? Porque não? Por não ser arte? O que é arte? Por que a pichação não é arte? O que leva alguém a pichar? Demência? Revolta? Adrenalina? Por ibope? O que será? Marginalizar e reprimir uma forma de expressão, sendo ela do seu agrado ou não, resolve o problema ou estimula ainda mais a agressividade clandestina do ato em si?
Arteiro, fazer arte, astucia, travessura... Pichação? (Analogias horríveis né kkk)
Ethos: O elemento moral, ideal ou universal de uma obra de arte, distinto daquele que é emocional ou subjetivo.
título no youtube: Pixo documentário sobre a pichação e pichadores.
Filme: Pixadores de Amir escandari
...Sabe de uma coisa meu jovem, nós amamos os bancos de praça. Somos entusiastas das bebedeiras nos bancos de praça. Trocamos ideais para matar o tempo em bancos de praça. Marcamos roles para depois dos bancos de praça. Namoramos em bancos de praças. Nos entediamos sentados em bancos de praça. Passamos mais tempo sentados nesses benditos bancos de praça do que em nossas próprias casas. Observamos o cotidiano sentados nesses malditos bancos de praça:
A velha fofoqueira da esquina. As gostosas que passam com suas curvas salientes. O adultero do comercio ali. O pedófilo do comercio acolá. As pessoas que entram e saem do supermercado monopolista com seus preços abusivos... Vemos com nossos olhos que a terra um dia há de comer, todo tipo de artimanhas, pilantragens, a hipocrisia e as maldades dessa gente que passa!
(Viu só, também somos bons em fazer julgamentos!)
“Peço pra Deus ter misericórdia dessas pessoas que fizeram essa blasfêmia”
Esse foi um comentário seu sobre a imagem de um crucifixo socado no cu que chocou a sociedade na última para gay.
O irônico é que a incitação ao ódio contra homossexuais. A rejeição que sofrem os gays de suas próprias famílias, da sociedade, do mercado de trabalho. A violência, a exclusão e todas as consequências infames que isso acarreta, psicológicas e físicas, tudo isso não choca, não causa tanta indignação. Todas aqueles que, por um motivo ou outro, foram forçados a cair no mundo das drogas, da prostituição, da situação de rua, só por terem outra orientação sexual. Os que são espancados e mortos gratuitamente... Nunca causam tanta compaixão assim.
Era isso que jesus esperava de vocês?
O que é um crucifixo socado no cu, essa provocação, esse “protesto”, perto de todas essas atrocidades?
Foi uma falta de respeito? É, talvez. Mas, só.
Não se deve ofender a quem lhe tem ofendido?
Não jugais para que não sejais jogados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir vós. E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, estando uma trave em teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidaras em tirar o argueiro do olho do teu irmão.
Ouvistes que foi dito: amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu porem, vos digo: Amai a vossos inimigos e bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem...
Mas mudando um pouco de assunto...
Infelizmente meu caro "churrasco e festinhas" enche momentaneamente o bucho e entretém, porém não alimentam o espirito de uma forma mais duradoura. A campanha do "Pão e circo para o povo" é a melhor, e acredito eu, a mais antiga e eficaz maneira de se fazer política, mas por fim acaba beneficiando apenas o político, como você deve saber.
Não que eu esteja aqui para julgar as suas intenções, e nem sei exatamente sobre "todos os seus feitos" aqui no bairro, e sim quero sugerir alguns outros projetos:
"Asfalto serve para passar carro e as pessoas não pisarem no barro". Pintar a quadra deixa ela mais bonita e colorida. A "academia pública" educa o corpo e torna a pessoa mais saudável. Legal, legal, legal... Mas, como é que fica a situação da cabeça, da alma, do espirito, principalmente a do jovem? Falo no jovem por que sou um deles, e convivo diariamente com a falta de um caminho que não nos leve para o álcool, o cigarro, a cocaína, entre outras coisas ainda mais barra pesada, como diversão ou escape. A periferia, meu caro, está contaminada, apodrecendo! Aliás sempre esteve, mas de uns tempos pra cá a coisa toda anda decaindo numa velocidade monstruosa!
Então sugiro a educação, educar em primeira instância, mas não falo da escola em si (que é um lixo), mas no hábito da leitura, por exemplo. Isso salva vidas. "Salvou a minha". Então para começar, que tal uma biblioteca aqui no bairro? Porém, não uma daquelas amontoadas de livros e uma bibliotecária entediada, que ninguém frequenta. Estimule a leitura. De algo em troca. "Compre o interesse da rapaziada se for preciso".
Aulas de danças. Teatro. Violão, bateria, violino... Aulas de desenho (Mangá)...
Escolinha de futebol. Esportes em geral.
Cinema na Praça com filmes que entretenha, eduque, informe e não bestifique ainda mais...
Campeonato de futebol. Campeonato de skate, como o que já teve anos atrás. Campeonato de pingue-pongue. Campeonato de dança...
Excursões, passeios, Bailes temáticos, Bailes para idosos...
Um playground decente...
Shows de artistas do bairro e região na quadra...
Festival de pipas. Tipo como no livro calçador de pipas...
Karaokê todas sextas- feiras no bar de fulano, por que não?
Feiras de artesanato na quadra...
Concursos: concurso do melhor desenho concorrendo a um prêmio simbólico. Concurso da melhor canção composta... concursos de dança... Saraus...
E por ai vai meu jovem... Pegou espirito da coisa? Ganhou a ideia? Sacou mano? As possibilidades são infinitas.
Use sua criatividade. Salve almas. Alimente espíritos. Nem só de pão vive o homem, como diz o ditado.
Sei que tudo isso que sugeri requer tempo dinheiro e paciência, pois não é nada fácil para se administrar. Até porque as coisas tendem a dar errado, a desvirtuar, a desanimar. Mas, foi para ao menos tentar, que você se tornou um representante do povo não é mesmo?
Então é isso. Valeu pela a atenção cara. “Do povo, do nosso jeito. Para o povo, o que realmente dê jeito”