Eu nunca faço uma coisa só, ou uma só coisa. Que coisa não?
Eu nunca faço uma coisa só, ou uma só coisa. Que coisa não? Sempre faço duas três ou mais coisas ao mesmo tempo. O que quase sempre resulta meio que em coisa nenhuma. Ouço música escrevendo (como agora) pensando, não na música em si, mas em outras coisas que geralmente não tem a ver com o som e nem com o que estava escrevendo. É como se eu não estivesse escutando mais nada. A mente viaja. Também não demoro muito fazendo o que estava fazendo. Enjoo, desisto, canso. E não consigo de jeito nenhum fazer nada. Aliás, fazer nada me parece ser a coisa mais difícil de se conseguir no mundo, a não ser quando a pessoa está dormindo, claro. Fazer nada “acordado” já é coisa pra Buda. A mim era suficiente apenas poder me concentrar num só afazer. “Se estiver andando apenas ande” (Ensinamento zen budista que li por esses dias). Como, por exemplo, quando vou martelar um prego na parede, minha concentração é somente naquilo e mais nada. O medo de acertar o dedo me dá a disciplina que falta para outras coisas. O medo e o instinto de sobrevivência eu diria mais. Esse texto, por exemplo, bem capaz que eu não termine como gostaria. Bem capaz deu começar outra coisa e largar ele no meio do caminho...
Na verdade o que eu gosto mesmo de fazer é prosear, seja num bom bate papo com alguém legal ou escrevendo bobagens no papel. Esse é o meu maior prazer. E 6 com isso não é mesmo? ...
...Do que estava falando mesmo? Ah lembrei. Era sobre como eu largo as coisas que começo pra começar outras e larga-las também... Outra coisa que faço é dramatizar qualquer situação meio complicada. Torno logo ela em uma tragédia grega. “Meu Deus o que será de mim, o que será de nós agora!” crio na minha mente um dramalhão só. Ai depois quando vai ver nem era tudo aquilo.
Por exemplo, olha só o drama:
Quando a bosta já foi feita não adianta puxar a descarga querendo resolver o problema do mau cheiro de imediato. O odor ainda permanecerá no ar por alguns minutos. No caso da cagada fisiológica o fedor vai desaparecendo aos poucos, agora, quanto às merdas que os idiotas fazem, às não fisiológicas, essas fedem, fedem, fedem e tendem a causar náuseas por muito mais tempo. E mesmo que não tenha tido a intenção, merda feita é merda feita. Não tem como retrocede-la pelo... Aconteceu todo um processo antes do excremento ser expelido do seu corpo. E esse processo anterior é o que lhe fez um idiota. Como foi que não viu a merda toda se formando? A barriga não lhe doeu, digo, o bom senso não lhe cutucou o intestino?
Você caga tão rápido como quem cospe!
E que bosta! ...
Tudo isso que você acabou de ler foi só a introdução pra dizer que por esses dias peguei duas pastas pretas que tenho cá comigo guardadas, cheias de folhas de caderno com textos que foram escritos à mão, a mais ou menos uns cinco anos atrás. E, relendo uma coisinha aqui e outro acolá, me deparei com um monte de poemazinhos porcaria, entre um e outro aceitável ou no mínimo simpático. Lembrei na hora de um filme chamado “obrigado, mais, por favor,” em que num dos diálogos um dos personagens diz que “de cinco em cinco anos sentimos vergonha do que fizemos lá atrás”.
Voltei aos meus textos do passado com a sensação de que essa estória de “cinco em cinco anos” se encaixava direitinho com eles e com uma porção de outras coisas na minha própria vida também. Mas, a primeira pergunta que ficou no ar foi: se há cinco anos atrás eu escrevia tão mal e não percebia, e hoje em dia?
E pensando mais profundamente sobre o assunto... Coitada daquela minha ex-namorada! Não que ela fosse também a melhor namorada do mundo. E nem que eu era uma mala sem alça em tempo integral. Mas, que angustia danada que dá quando você se toca das merdas que fez. Passei um bom tempo, depois que me toquei das minhas cagadas, querendo lhe dar uma caixa d’água de sorvete de maracujá, o seu preferido, como pedido de desculpas...
Escondi de volta as duas pastas. Não consegui jogar fora. Não comprei a caixa d’água de sorvete... Quem já nasceu sabendo? É errando que se...
Do que mesmo eu estava falando no começo desse texto? Nem lembro mais... Vou ali e já volto. Depois termino de falar com vocês...
“Se for martela um prego apenas martele-o”