ILHAS DE FAMÍLIA
Sempre disse que os Conceição – uns mais, outros menos – são ilhas familiares, especialmente os homens. Meu pai, que tinha cinco irmãos, três gurias e mais dois guris, passava anos e anos sem vê-los, tanto quanto, durante várias temporadas, encontrava pouco os próprios pais. É que eram tempos difíceis, de grandes distâncias, pouca infraestrutura e dificuldade nas comunicações. Também não era fácil ganhar a vida e desvincular-se das obrigações profissionais. Os encontros familiares eram acontecimentos épicos. De outra banda, a diminuta família de minha mãe, cujo núcleo era seus pais, uma irmã e seu marido, não tinha praticamente ninguém no Brasil, salvo tios Higino, Hugo e Joãozinho Ghizoni – irmãos de minha avó Dina - que, igualmente, não se viam com tanta frequência, salvo tio Hugo, que religiosamente almoçava na casa da Vó Dina e me espantava com seu prato fundo de azeite, com pimenta malagueta, cebola crua, pimentão e alho picados. Joãozinho morava em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Meu avô Mattos, pai de minha mãe Maria, era imigrante português, que veio ao Brasil aos dezessete anos. Aliás, minha mãe nasceu em Portugal e veio ao Brasil com um ano de idade. Minha avó Dina era filha de italianos de Pavia e Bérgamo, cujos parentes espalharam-se por aqui, acolá e a colibri, sem contato. No caso, portanto, da família de minha mãe, o isolamento era continental no que concerne aos Maiores, enquanto os Conceição detinham uma característica insular, vamos dizer assim, talvez por temperamento, idiossincrasias e cultura. Dou ênfase, aqui, aos homens. Tive mais convívio com meus tios-avôs, talvez, do que com os irmãos de meu pai, exceto tio Nilo Conceição e com a família Bermúdez - que sempre luziu como exemplo positivo de congraçamento e convívio a meus olhos. Com a irmã da mãe, Isabel e tio Cícero Castello Branco, seu marido, morei junto por dois anos, na casa dos avós, portanto, relação muito estreita. Seja como for, é pouco para tantos parentes próximos, ao menos no arquipélago estritamente Conceição. Dizem que sou muito na minha, no meu mundo, sem cultivo intenso de contatos familiares ou de amigos, tanto que, antes do segundo casamento, morei 22 anos sozinho, com muito prazer e tranquilidade. É possível que a observação seja exata, mas é como sou ou o que me tornei e curto demais este meu jeito insular de amar intensamente a família, os amigos e a vida, ainda que também adore a confusão dos parentes reunidos, como acontecia com irmãos, primos, vizinhos e amigos em Xangri-lá, nos anos dourados.