FALANDO POR ELAS...
BOM DIA,
MARIA!
Este é seu dia... mesmo que você nem saiba;
Foi preciso muitos dias, que depois se tornaram anos, de sofrida agonia, para que Ela, a Mulher conquistasse seu espaço.
Mas que espaço?
Conquistou o direito do trabalho fora de casa, mas dobrou sua jornada.
Conquistou um salário condizente com seu status “mulher”, mas nem sempre equiparado ao salário masculino, embora o tempo demandado e o esforço sejam o mesmo.
Mas nem sempre a dedicação é igual.
Há empregadores que reclamam dos direitos à maternidade e amamentação, mas querem colher os benefícios inerentes à chefe de família, que sabe como ninguém, dinamizar o tempo. Executando tarefas diversas simultaneamente.
E quando se trata de dedicação, ela é uma Fera humana.
Aí... há os que dizem... ”Pessoas dedicadas à família produzem mais, são menos estressadas”.
Passam, portanto, a serem vistas com bons olhos pelos chefes, mas após e apenas, após, os benefícios unilaterais da licença maternidade e amamentação tão duramente criticados.
Sei que houve conquistas, portas que enfim se abriram...
Direitos políticos, leis que passaram a beneficiar os direitos da mulher, liberdade, educação, igualdade de direitos, enfim, conquistas que colocaram a Mulher no contexto social, onde deixa de ser sombra e passa a ter um papel atuante na sociedade.
Mas há MULHERES e muitas ainda, que não sabem dos seus direitos, que não conhecem a sua força, que ainda são escravizadas, que ainda não possuem voz, que só não permanecem totalmente na sombra porque o direito ao trabalho, fez dela arrimo de família.
Mas a luta dos menos favorecidos é ainda mais ingrata para as Marias da Vida.
Que caminham rumo ao pódio servindo de apoio ou escada, se não for saco de pancada.
Sempre há que ter quem fale por elas.
Muitas Marias encontram Josés e juntos colhem os frutos da mesma luta e dos mesmos sonhos.
Mas a maioria dessas Marias sabe que hoje é seu dia?
A maioria delas, as Marias da vida, suando voltam pra casa, depois da grande jornada, outras tarefas as esperam...
Ela é a “Rainha do lar”. Nada acontece sem ela.
Soberana da miséria, e da palavra muda.
Principalmente, se tiver que encher uma panela.
Deitam a cabeça ao dormir, exaustas de pensar e lutar, sem nem mesmo poderem falar.
Falar o que vai lá dentro? Do coração e do pensamento?
Qual a hora de falar o que lhe vai à alma?
Primeiro precisa ver o que comer. Claro que se pudesse, se houvesse tempo pra isso, veria um pouco de TV. Quem sabe, aprender com aquelas pessoas, que falam cada coisa! Falam tudo o que querem, e parece tão fácil!
Quando Ela pensa no que precisa dizer, em lembrar o que precisa mudar, o que muda é o ponteiro do relógio, marcando a hora tardia, mostrando que a noite logo vira dia.
E aí tudo tudo recomeça, de novo e de novo!
E a Maria se cansa até de tentar ser Ela.
Nem chora o que vai à alma, nem ri gostoso a alegria da sua importância, de ser o que é, porque a desconhece.
Só segue.
Dia após dia... a mesma rotina sem cor.
Invisível para a maioria da humanidade.
Conquistando todo dia os seus direitos iguais.
Irani Martins
08/03/2014