O pequeno engraxate

Rodrigo, nosso filho que nasceu primeiro, acompanhou, presencialmente, nossos difíceis passos para adquirir a casa própria. A economia doméstica fazia parte da pauta de todos os dias.

A tão sonhada mesada, por pequena que fosse, ficava somente na promessa, pois nosso minguado salário mal cobria as despesas prioritárias, depois de pago o boleto mensal do financiamento da casa pela Caixa Econômica.

Ele muito colaborou, contentando-se com brinquedos de pouco valor que, com sua criatividade e imaginação, a tudo transformava e personalizava.

Mas o que ele sentia muito era a falta de uns trocados no bolso que estivessem disponíveis para comprar balas, chicletes ou algum doce diferente que via nas vitrines das padarias.

Depois de muito matutar, descobriu uma maneira honesta de conseguir as tão desejadas moedas. Com tábuas conseguidas num Varejão, construiu, ele mesmo, um caixote de engraxate, comprando a prazo uma escova e duas latinhas de ceras, uma preta e outra marrom.

De manhã, ia para a escola. Logo após o almoço, carregando aquele caixote, ia ele sentar em frente ao Supermercado BBB que ficava na Rua Goiás. Um ou outro passante a ele deu a chance de exercitar na prática de sua primeira profissão que lhe rendeu algumas poucas moedas!

Por vários dias, esta foi sua rotina. Dali para ser embalador no supermercado foi só uma questão de tempo!

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Hoje, Rodrigo, Doutor em Comunicação e Semiótica, não se esquece de colocar estas duas "experiências profissionais" em seu Currículo Lattes!

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 07/07/2007
Reeditado em 15/07/2007
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