PARA LER SEM MEDO, PRECONCEITO E PRECIPITAÇÃO

Se admitirmos a idéia de um arroto secreto daquele ídolo que povoa nossas admirações, pode ser um bom começo do necessário fim que devemos dar ao endeusamento de pessoas. É sadio saber, por exemplo, que o "rei" Roberto carlos não sofre apenas do glamuroso transtorno obsessivo compulsivo. Ele jamais diria ao público se tivesse problema de urina solta, mesmo que desse a isso o sofisticado termo incontinência uinária. De qualquer modo faria xixi na calça.

Teremos menos desprezo por nós mesmos quando conseguirmos imaginar a rainha da Inglaterra soltando um flato. Isso não é um "privilégio" apenas da plebe. As boas maneiras mandam não faze-lo em público, como fazem os deseducados - e porcalhões -, mas a natureza não seleciona por classe cultura, berço e nacionalidade os que precisarão faze-lo no decorrer da vida. Seria também dignificante saber que o presidente Bush arreia as calças até o joelho, como todos nós, para sentar num vaso sanitário com o mesmo objetivo dos mais de seis bilhões de habitantes que lançam dejetos por toda a terra.

É bom lembrarmos que o papa também escarra; que a Maddonna tem diarréia; o Dalai Lama tira melecas do nariz. Derrubando a imagem do mito, visualizaremos a Xuxa no ato de uma cusparada, o provável chulé do Caetano veloso ao se descuidar das providências para não te-lo, e o mau hálito que recheia a boca de muitas celebridades de todas as áreas, instâncias e sociedades. A mídia só fala das enxaquecas, indisposições, problemas emocionais, mal de azeimer, mas as doenças, hábitos e necessidades de nomes chulos fazem parte de suas rotinas tanto quanto das de pessoas simples.

Quando entendermos perfeitamente que todos estão expostos a tudo isto, e nosso entendimento for tão racional quanto afetivo e humano, daremos início a uma sociedade mundial mais igualitária. Esse olhar desnudado, sem as cataratas do complexo e do preconceito muitas vezes contra nós mesmos - ensejará uma distribuição bem mais justa de nosso amor, nosso respeito e admiração pelo próximo. E o conceito ideal de próximo estará garantido, pela proximidade que essa nova postura ensejará.

Dando fim ao endeusamento de pessoas, há de ser automático o fim do menosprezo a tantas pessoas. No caso, as de menor poder aquisitivo; as que não têm cargos importantes; as anônimas e simples, até simplórias. É que tal ampliação de conceitos, consciências, sentimentos e prismas éticos farão com que a humanidade se veja como é... a humanidade. A imensa fileira de mortais que voltarão ao mesmo pó, garantindo a continuação do ciclo vital.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 03/07/2007
Reeditado em 03/07/2007
Código do texto: T550839
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