Amigos e prisão

Dizem que são justos e perfeitos, que possuem o conhecimento de que Deus é o direito do homem na terra. Ficam falando que a verdadeira amizade é composta em seus templos cercados de beleza e sabedoria. Talvez tenham uma ligação para que nenhum irmão seja deixado na masmorra. O problema é que o poder tirou deles qualquer capacidade nobre de julgamento.

Nem poderiam falar em humanidade, é que quando amam, negam o resto do mundo. Eu sei que facilmente seriam parte de uma nobre legião, ainda que legiões tenham um fim inesperado. Deixam seus conhecidos presos como cobaias de laboratório, sendo que quando mentem aos fortes é notório que preparam a própria cova ou espaço no crematório. Não quero que tenham raiva do que eu represento, eu quero apenas que não tentem interpretar o que apenas faz parte de minha arte.

Diante um crime que cometi fui levado para a prisão. Lá permaneci como um bandido, enquanto que se eu tivesse pago uma maldita fiança seria feito justiça. Se tenho amigos solidários que perceberam o meu caso de risco, seria libertado no primeiro dia. Diante uma falta de dinheiro, por quatro dias fui submetido ao que existe de mais corrupto e idiota no sistema carcerário brasileiro.

Naquele terreno prisional tão feio fiquei mais preso do que quem assassina os próprios pais ou estupra os próprios filhos. Por quatro dias preso não tive o direito de me comunicar com o mundo dos “livres”, por quatro dias preso não surgiu uma defensoria gratuita para que eu pudesse explicar o meu caso. Usuários de cocaína, de maconha, de álcool e outras drogas, se deliciavam dentro do que era pra ser uma prisão mantida pelo maldito estado. Drogas podiam entrar, livros e psicólogos, médicos e trabalho, apenas nas televisões que entram como drogas na prisão.

Não posso generalizar sem conhecimento de causa, o problema é que agentes prisionais despreparados acompanhavam toda a movimentação dos presos. A própria organização do material de higiene ou alimentação que chegavam intactos, não tinha muito aproveitamento e seriedade. Eu queria saber se juízes visitam o local? O que fica naquele ambiente é uma porta interna para que a masmorra do crime aumente no seio da sociedade.

Condições básicas para que os criminosos tenham a chance de se tornarem cidadãos de sonhos poderiam ser dadas com facilidade. Os sábios concluem que enquanto não ser morto o simples sentido de humanidade, famílias, grupos de amigos e o próprio indivíduo são massacrados pelos que se dizem leais defensores da miséria que recebemos. Enquanto eu questiono, outros não pensam e me criticam, para quem sabe que possam obter algum ganho sobre quem eles dizem ter colocado tudo a perder. Eu não tenho nada o que perder, sou grato por tudo o que recebi na vida, apenas não aceito a ocultação da carne de meus inimigos, eu não quero levantar a caveira daqueles que insistem na violência física para resolverem os problemas fundamentais de nossa sociedade tão jovem.

Se estão me perseguindo para que eu seja um deles, estão com a corda no pescoço, até que eu chute o banco que lhes mantém com vida. Caso estejam me perseguindo para manterem o falso trono, estão quase sendo mortos pela criminalidade que não é culpada pelo caos e aos poucos se fortalece. Ainda podem estar indiferentes ao que eu represento, mesmo que eu seja a lança contra o amor que não se concluiu. Claro que me restam os amigos, estes são puros e na impureza são apenas levados pela tristeza que nunca morou em meu coração.

Escritor Joacir Dal Sotto​

Joacir Dal Sotto
Enviado por Joacir Dal Sotto em 02/01/2016
Código do texto: T5498240
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