FLAGRANTE FRAGRANTE
Um momento perfumado encontra-se em franca deterioração, eu poderia dizer.
O fotógrafo, Sr. Wilson, carteiro de Itabaiana e proprietário da Foto Progresso, custava e eu tive de ir chamá-lo na Rua Fernando Pessoa, preocupado para não amassar o meu conjuntinho de linho branco com gravata borboleta.
O registro ocorreu em 1967, mas o cuidado não! Fizemos como fazem as cidades com os seus prédios antigos: deixam-nos cair, anulando a memória.
Nesta foto éramos sete irmãos, mas lembramos o romance da Maria José Dupré, porque de Leleu restou apenas o rabo da saia. Só eu, Neuzinha e Dedé estamos incólumes. Foi-se uma perna de papaizinho, os pés de mamãe, de Célia e de Sônia e de Lila um braço.
Da nossa jardineira suspensa não se vê as flores. Era um hábito mantê-las na frente das casas.
Eu tinha 7 anos e uma calça coronha... papaizinho tinha a idade que tenho hoje e Dedé apenas alguns meses. Ambos dormem!
E eu fico a me perguntar por que é que eu inventei de olhar uma foto antiga no Dia de Natal, só para entristecer o meu coração e pensar numa forma de recompô-la, na tentativa de resgatar Leleu, já que Nanau, Selminha e Bell ainda estavam na Lua das imaginações.