Crônica de Uma Pequena Eleição Classista

Em 1991 fui convidado a participar de uma eleição para a escolha de quatro representantes do Estado do Paraná para uma Convenção Nacional da minha categoria que ocorreria em Brasília.

Éramos doze candidatos disputando quatro vagas de convencionais, num grupo aproximado de quinhentas pessoas, entre ativos e aposentados.

Como os processos eleitorais em geral, o nosso possuía caciques e redutos eleitorais dos mesmos candidatos de sempre. A infiltração de um novo e independente candidato naquele meio viciado era motivo de forte reação dos conservadores. Logo, já foram me taxando de Xiita.

Ignorando essas reações, fui me concentrando em como poderia passar uma mensagem para os colegas, sem a costumeira cartinha de apresentação com pedido de voto e o corpo a corpo criticando colegas para angariar votos.

Meu desejo era romper aquele ciclo vicioso, não queria fazer parte daquilo. Não queria induzir os colegas a hipocrisia de mentir que votariam em mim, porque estava pedindo. Então teria de criar uma estratégia diferente. A primeira coisa que falei para um grupo de colegas que me estimularam, foi que o meu voto não daria para eu mesmo e sim para um colega que julgava que pudesse ser um bom representante da categoria. O que provocou uma reação de protesto de alguns que alegaram que estavam batalhando votos para minha eleição e o meu voto que era garantido eu estava desprezando. Então, disse-lhes que na minha visão, quem me considerasse um representante a altura da categoria que me escolhesse e se a maioria pensasse dessa forma eu seria eleito sem depender do meu próprio voto, estaria simplesmente disponível para aceitar uma representação.

Passada essa fase inicial, me concentrei na estratégia.

Abandonando a tradicional cartinha de pedido de votos, me surgiu a ideia que deveria fazer um encarte com uma imagem na capa, que por si só passasse uma mensagem e o conteúdo deveria conter questionamentos sobre como o processo era realizado.

Desse modo, na capa do encarte desenhei um círculo, no entorno dele escrevi XIII Convenção Nacional, formando um arco sobre o círculo e no centro uma figura de uma pessoa segurando uma pasta e pegadas ultrapassando o círculo indo em direção ao um sol. Um símbolo que mostrava que eu poderia romper o círculo do objetivo imediato e me dirigir a um objetivo maior.

Comecei explorando o duplo sentido da palavra convencional e ficou assim:

Colega,

De que modo você quer votar e escolher seu candidato?

Do modo “convencional”?

Do modo não convencional?

Pense ...

Escolher sem critério pode ser convencional, porém, a liberdade de escolha está acima das “convenções”.

Encontre uma razão para sua escolha, do contrário, os outros o farão por você.

Vote livremente, independentemente das convenções.

Assim, se não obtiver o seu voto, no mínimo compartilharei com você a alegria de ser livre, mesmo num momento.

Naturalmente, você espera propostas, teses, contudo os anais das doze últimas convenções devam estar repletos delas.

Penso ... que o espírito das ideias lá depositadas, deva estar clamando por realização.

Certamente, algumas se concretizaram, mas e as outras centenas que esses anos todos nos fizeram esquecer?

Tradicionalmente, as convenções têm como objetivo principal a eleição do Conselho Executivo da nossa entidade.

Sincera e utopicamente, gostaria que primordialmente, se constituíssem em laboratórios de ideias criativas de interesse da nossa categoria e da instituição que trabalhamos. Assim, talvez nos sentíssemos menos corresponsáveis pelo caos em que ela se encontra.

Imagino que os instituidores da nossa entidade classista, tenham pensado nisso no início, mas o tempo ...o que faz o tempo...

Participe! Sua presença é muiito importante.

Um abracinho pro Voto.

Um abração pra Você!

Para concluir, informo que fui o segundo mais votado no Estado, sem pedir um voto e sem constranger ninguém.

Uma façanha que guardo como uma grande experiência de vida.