Uma carta pelo amor que ocorreu
Naqueles dias não acreditei no amor, até achei que era uma mulher feia e um pouco velha diante o poder brilhante de minha juventude. Nunca fui de acreditar em outras vidas, apesar de que me sinto melhor em centros espíritas. Não conseguia ver riqueza naquela mulher, apesar de que o dinheiro nunca me atraiu como fonte de progresso. Encontrava um ar de depressão naquele olhar carente.
Os mortos parece que renasciam na face da mulher tão infantil em seus gestos, tão ressentida diante os obstáculos que lhe feriram na jornada da vida. O sexo realmente demorou acontecer, foram necessários três encontros de descobertas. Desde cedo, o relacionamento dava seus sinais de incompatibilidade comportamental. Talvez pelo preconceito dela tudo foi ficando intenso e ao mesmo tempo de difícil manutenção.
Eu melhorei em muito, deixei um pouco das palavras agressivas e quando me afastava era em plena silêncio. Depois eu voltava como um idiota, pedindo por mais uma chance. Não posso ser injusto, naquela mulher existia redenção, existia uma profunda vontade de manter o amor. Apesar de tudo o seu silêncio me irritava, a sua depressão me deixava muito irritado.
Pensei em matar de forma metafórica para manter aquele amor. Trai metaforicamente para ao menos sair como maldoso diante o falso poço de bondade que a mulher que me procurou exalava. Flores não lhe faltavam e o dinheiro dela nunca foi roubado diante o meu desinteresse financeiro. Claro que eu estava falido e em meu estado falido nunca mendiguei por amor.
Fiz com que a mulher colhesse flores para seus filhos tão carentes, ajudei uma de suas filhas de maneira que nunca pedi nada em troca. Alguns que não pertenciam ao nosso círculo de amor ficaram invejosos, ficaram agressivos diante o que fazia parte de nós. Houve revoltas, eu fui agressivo e talvez permaneça sendo sincero. É melhor falar a verdade, do que mentir pela frente e fazer com que o sofrimento seja maior.
Apesar de jovem, eu já sou um homem doente. Sofri por um amor que não despertei em uma mulher, sofri por um amor que a mulher buscou e por fraqueza abandona. Não quero recompensas ou explicações de sua parte, também que a sua escolha lhe fará sofrer muito mais. Em outro homem encontrará dificuldades para se relacionar, um homem como eu é impossível de encontrar. Fui fiel no sentido do que apresentava para tão nobre mulher, fui demoníaco para talvez acabar com o silêncio dela.
A única regra é que o amor não poderá ser negado, o amor é um sentimento que nos eleva e se dele deixamos é a queda algo terrível. Não estou jogando pragas em quem me fez amar pela primeira vez, estou apenas sendo sincero como poucos conseguem ser para com uma mulher. Podem me assassinar, o que não podem é retirarem de meu coração o amor e a minha verdade. O abraço poderá não ser dado, a energia dos mortos é assassina, a vida é fugaz para quem nega o amor.
Escritor Joacir Dal Sotto​