NÃO TIRE A POESIA DA RELAÇÃO

Sou um tanto pragmático e isso tem afastado algumas pessoas da minha vida. Não obstante amar as palavras, as construções literárias, afinal eu sou poeta, dou muito mais valor à prática, à atitude.

Sou do tipo que busca aprender com as situações. Em um “Pôr do Sol Literário”, na Academia Paraibana de Letras, em que Wills Leal homenageava Virginius da Gama e Melo, ouvi-o dizer que o literato era “...um ser humano que aprendia com Kafka, mas parava horas para ouvir a poética popular de Caixa D'água...”.

Em Itabaiana dos anos setenta, os jovens tínhamos uma máxima, que “lugar de filosofar é casa de...” bem, deixa para lá! E as mesas de bares? Enxuto jura ter aprendido muito com a sua madrinha Nevinha; Fábio Mozart, com o Índio e Dolfo, expoentes do futebol e da mentira itabaianense.

Rubem Braga também fala desse comércio-escola-divã: “No bar, principalmente quando a mesa é de dois, a gente ouve confissões inesperadas. A moça que no começo da conversa tinha tido apenas um namorado, e de namoro leve, conta pelos meados do terceiro drinque detalhes bastante íntimos de seu último caso.”

E continua Braga, “Ora, o que a gente ouve no quinto copo pode ser interessante se achamos algum interesse na própria pessoa que conta. Caso contrário, fica apenas a melancolia da triste condição humana, das experiências do amor, dos desencontros físicos e sentimentais, das incompreensões e dos fracassos.”

Um certo dia eu estava bebendo no bar da mãe de Dedé de Paul, com um amigo, jovem como eu, mas que noivara com uma ‘balzaquiana’ (hoje as mulheres de 30 anos são pirralhas). Moça muito distinta, já estabelecida na vida como professora, quando ele veio contar as suas intimidades com a noiva. Eu era muito mais radical do que sou hoje! Olhei-o bem dentro dos olhos e disse: Não tire a poesia da sua relação. Isso é uma coisa só de vocês! Você não tem vergonha de ficar expondo a sua noiva aos amigos?! E foi a última vez que bebi com esse moço.