A Bélgica que conheci
O noticiário recente tem citado a Bélgica com frequência, destacando-a como residência de grande número de terroristas vinculados ao Estado Islâmico. Para um país de pequena extensão territorial como esse, a população muçulmana em várias de suas cidades é numerosa e preocupante, principalmente se for constituída de integrantes do Islamismo radical, comandado por terroristas cruéis, homens maus, sedentos de sangue e de práticas criminosas como as atrocidades exercidas na Idade Média.
Felizmente, nem todos os que professam a fé islâmica aprovam os métodos demoníacos desses vis terroristas. A preocupação dos líderes mundiais com a segurança do cidadão inocente deve evoluir para dar um basta nas ações do Estado Islâmico.
A Bélgica não é culpada dos atentados que vitimaram centenas de pessoas inocentes, mundo afora. Talvez tenham faltado cuidados preventivos aos seus líderes, para impedirem os últimos atos criminosos, fartamente divulgados pela mídia internacional.
Esse pequeno rincão que conheci em duas viagens empreendidas nos últimos anos merece ser descrito por seus atrativos e como contraponto às más notícias veiculadas ultimamente. Eis o meu relato:
Deixamos o trânsito esquisito de Londres, com destino a Bruges, localidade medieval fundada às margens do rio Zwin, nos longínquos séculos VII a IX. Andamos por ruas milenares, visitamos lojas, adquirimos produtos típicos, como as lindas bonecas de louça, presenteadas à Isabelle, nossa netinha de quase três anos. (Isabelle é a princesa da casa real da família Braga).
Apreciamos prédios, igrejas, monumentos e canais que deslizam sob pontes antigas e nos quais navegam pequenas embarcações lotadas de turistas. Parques, jardins, patos, cisnes e outras aves aquáticas não se esconderam de nossos olhos atentos e deslumbrados. Tudo fizemos para aproveitar ao máximo os felizes momentos passados nesse significativo e belo patrimônio europeu.
As casas nas ruas de Bruges parecem flutuar nas águas frias dos canais, em agradável comparação com Veneza. O Campanário e certos edifícios da milenar localidade foram construídos em 1240. Para ter acesso à torre do campanário, de oitenta e três metros, o visitante tem de subir trezentos e sessenta e seis degraus. Uma jornada difícil.
Minha filha Mércia ficou maravilhada com a cidade, que lhe pareceu um paraíso encantado. Diz que ainda hoje sonha andando por suas ruas aconchegantes, percorridas por carruagens puxadas a cavalo, cujo cavalgar ecoa nas vias calçadas de pedra.
Os habitantes da cidade equiparam a Torre da Atalaia à Torre Eiffel. Para eles, esses monumentos têm a mesma importância turística. É verdade. Ali, se encontra instalado um carrilhão com quarenta e sete sinos, pesando vinte e sete toneladas. Seu som é ouvido pela população distante.
Visitamos Bruxelas, a capital da União Europeia e também da Bélgica, país situado abaixo do nível do mar, sem elevações montanhosas, formando uma planície agradável à vista.
A população de Bruxelas é de um milhão de habitantes. É a segunda cidade mais arborizada do mundo, com quarenta metros quadrados de verde por habitante.
Na Bélgica são falados os idiomas francês e flamenco. Os belgas não gostam de ser comparados aos holandeses, talvez por possuírem personalidade forte. Assim pensam os habitantes desse pequeno recanto, disciplinado e orgulhoso de seu desenvolvimento, tendo a França como um dos vizinhos.
O país possui excelente infraestrutura de transportes, com ferrovias e autoestradas sinalizadas e iluminadas por luz elétrica em toda sua extensão. Seus rios são navegáveis e desfrutam dessa condição para crescimento da atividade econômica do país.
Em passeio pelo centro da cidade, fundada no ano 580, fomos guiados por um cicerone que nos levou a conhecer a Praça do Mercado, a “mais bela do mundo”, nas palavras de Victor Hugo, que lá residiu.
A praça é realmente bonita, tem forma retangular, mede cento e dez metros de comprimento por sessenta e oito de largura, onde se encontram a casa do rei, um lindo campanário e diversos edifícios do século XVII.
Ainda passeando, vimos a catedral construída em 1225, dedicada a São Miguel; a Fonte de Netuno, cópia de sua congênere de Bolonha, na Itália; a Capela Real, dedicada a São Tiago; os ministérios em torno do Palácio Real; o Parlamento Europeu, com cinquenta mil burocratas, o maior do mundo (perde de goleada para o Congresso Nacional brasileiro); a primeira galeria comercial da Europa, construída em 1847, local onde Victor Hugo escreveu Os Miseráveis; o Palácio Real e a graciosa estatueta de Mannekeen-Pis, famosa até em países estrangeiros. Conta-se que esse pequeno herói teria se perdido do pai em dia de grande festividade pública. Tempos depois, foi encontrado na Rua Etuve, onde hoje sua estátua jorra água da genitália.
Talvez Mannekeen-Pis seja a figura mais bem vestida mundo afora. Em diversos países, sua estatueta é ornamentada por roupas do folclore nacional. No Brasil, sua escultura encontra-se exposta no estádio do Botafogo, vestida com o uniforme esportivo do tradicional time de futebol carioca. Ainda bem que não é do Flamengo! Melhor seria tê-lo vestido com roupas de cangaceiro, como as usadas por Lampião, o rei do cangaço. Assim, seriam satisfeitos o folclore e a tradição.
Ao final da visita a Bruxelas, junto à estátua de Everard Serclaes, exposta na Rua Charles Buls, os visitantes pedem a realização de variados desejos: saúde, dinheiro, sorte nas cartas de baralho e no amor. Everard Serclaes foi um cidadão nascido em Bruxelas em 1320, que se tornou herói por participar da libertação da capital do domínio do Conde de Flandes.
Assim é a Bélgica que conheci. Tradicional, recordativa, maravilhosa. Vale a pena conhecê-la!