TÁ VIVA A VIDA! - de Luciene Soares
A poeta Luciene Soares nunca foi no sertão, não conhece as belezas que ela mesma canta em seus poemas. Nasceu na terra das águas, Santa Rita, mas grande parte da sua poética é permeada pela dor do estio e pela beleza das enchentes.
Eu não tenho certeza, mas Zé da Luz garantia que Catulo da Paixão Cearense não conhecera o sertão. Será?
Bem, o que eu sei é que a chuva equilibrada traz um canto de vida sobre a terra.
Morar em João Pessoa é encontrar-se leve e solto na natureza! A cidade mais verde das Américas recebe chuvas nas quatro estações.
Hoje choveu e eu me lembrei de um dos poemas mais simples e belos que eu conheço, da poeta Luciene Soares:
"TÁ VIVA A VIDA!
Os leitos esturricados
E os olhares cinzentos
Dias lentos, dias lentos
E moedores parados
Os estômagos varados
Bem pouca coisa se come
A morte assina o nome
Até o sono é escasso
A vida perde o compasso
Quase a esperança some
Com a alegria da chuva
Cheirosa fica a terra
A névoa abraça a serra
Parece que lhe põe luva
Voa formiga saúva
Verde aqui, verde acolá
Rebento rebenta já
Risos em volta da mesa
Encheu, encheu a represa!
Vai ter festa no “arraiá”
Uns quatro metros de chita
Que é de direito comprar
Adorno é pra adornar
Bonita é pra ser bonita
Vestido tem que ter fita
Tá viva a vida, tá viva!
Bem-vindo à comitiva
Já começou a festança
O riso dança com a dança
E a tristeza se esquiva"
(Luciene Soares)
Uau!!!
Apesar da chuva, não amanheci tão inspirado quanto a poetisa, mas tirei pelo menos algumas fotos dos pingos d'água, que, não obstante quase diários em João Pessoa, me fascinam.