HOMENAGEM (E ALGUM DESMERECIMENTO) A VIRGINIUS DA GAMA E MELO

O Pôr do Sol Literário desta quinta-feira, 29/10/2015, em sua XXII edição, começou com uma homenagem a Virginius da Gama e Melo, literato paraibano.

O sarau aconteceu no Jardim dos Acadêmicos e prometia ser um evento apoteótico, começando com a leitura de crônica por Lourdinha Luna e o debate iniciado por Wills Leal. Os dois não carecem comentário, mas é preciso que se diga que Leal, por ter sido amigo pessoal do homenageado, ainda se não fosse por sua verve farta, tocou-nos com as referências sobre o literato, mostrando-nos o seu lado genial. O seu poder de percepção, que se acentuava mais numa prosa com Vassoura do que numa leitura de Shakespeare; um homem universal que não saíra do seu país; um literato fabuloso que refletira a nuance da sociedade paraibana; um ser humano que aprendia com Kafka, mas parava horas para ouvir a poética popular de Caixa D'água...

A segunda parte do debate ficou com a professora Ângela Bezerra de Castro, que surpreendeu a todos mostrando o lado humano do literato. As bebedeiras, as perseguições, as acepções, a irresponsabilidade com as aulas de literatura brasileira, de cuja cadeira era titular na UFPB. Segundo Castro "Virginius chegava faltando 10 minutos para terminar a aula e dizia: 'Dez minutos de síntese valem mais do que dez horas de análise!'" Sem desmerecer a sua obra, de excelente qualidade, mostrou o lado animal dos homens. Fez, porém, questão de enfatizar que as suas aulas sobre Eça de Queiroz e Fernando Pessoa eram espetaculares.

O escritor Ramalho Leite e o crítico Gilvan Freire, que estavam na minha frente, olhavam-se e repetiam "A hora da vingança!" O meu filho, Piero Alyson, que estava ao meu lado, escrevia no bloco de notas do celular: "E não era uma homenagem?" Eu respondi baixinho: meu filho, nós estamos na Academia, onde se deve mostrar os acertos e deslizes das pessoas! Afinal, nem a Bíblia poupa o homem. Veja o exemplo do Rei Davi!

A professora Ângela Bezerra de Castro prometeu lançar a sua biografia, "quando estiver mais velha", o que certamente não desabonará a obra do grande literato, mas deixará patente o que qualquer ser inteligente sabe e que São Paulo expressara com convicção: "Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo." (Romanos 7:18,19)

Só a Graça para nos mudar.

Sander Lee

Presidente da Academia de Cordel do Vale do Paraíba - ACVPB