ORQUÍDEAS, BEM-TE-VIS E CIRROS
Para maior comodidade da família, o velho Ferreira interligou as duas casas, sendo que na segunda ficava o seu escritório, salão de visita e o meu dormitório e de Zé Carlos.
Fiz do banheiro da segunda o meu observatório, já que não era utilizado para o seu fim apropriado. Fazia o que toda criança gosta de fazer. Subia para o telhado e ficava olhando o céu, analisando os desenhos que os cirros fazem.
Neste domingo de primavera, repeti essa ação. Não sei se é porque perdi um irmão e o cérebro insiste em voltar no tempo...
Deitei-me no banco, sob a aroeira frondosa, e fotografei, para compreender porque é que as crianças gostam dessas coisas simples e belas. Aproveitei para tomar chimarrão, um hábito que aprendi com amigos gaúchos, andar descalço e observar um motorista que insistia em aprimorar a prática da garagem.
Durante uma semana não trabalhei, não fui para a faculdade, desmarquei as palestras agendadas, não compus, a não ser as dores da perda...
Mas como a vida continua, estou reaprendendo com os bem-te-vis, as aroeiras, os flamboyants, os ficus e essas pequeninas orquídeas, postas num jarro, que demonstram bem a beleza e a finitude da vida terrena.