O EU LÍRICO
Alguém lendo o meu poema "Olhares" perguntou-me "quem é esse amor impossível pra você?" Eu respondi que o poeta Sander Lee vive do seu amor possível, mas o eu lírico se alimenta das impossibilidades:
Dei pra ler filosofia
Para ver se penso mais
Mergulho pra ver corais
Inspiro filologia
Até macroeconomia
Tem sido minha ração
Anseio pela razão
Mas não me livro das dores
Teus olhares são fulgores
Queimando o meu coração
Quando comecei a escrever no antigo Orkut, alguns amigos virtuais chegavam a me dar conselho a respeito das dores expressas nos poemas.
Fernando Pessoa dizia que,
"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente."
Luana Castro Alves Perez, in "Eu lírico", afirma que, "É preciso compreender a diferença entre o poeta e o eu lírico. Não devemos confundir a pessoa real com a entidade fictícia. Claro que o poema não está isento da subjetividade de seu criador, mas no momento da escrita uma nova entidade nasce, desprendida da lógica e da compreensão de si mesmo, fatores que nunca abandonam quem escreve os versos (autor/poeta)."
Que o diga o poeta Chico Buarque:
“Se acaso me quiseres
Sou dessas mulheres que só dizem sim
Por uma coisa à toa
Uma noitada boa
Um cinema, um botequim
E se tiveres renda
Aceito uma prenda
Qualquer coisa assim
Como uma pedra falsa
Um sonho de valsa
Ou um corte de cetim
E eu te farei as vontades
Direi meias verdades
Sempre à meia luz
E te farei, vaidoso, supor
Que és o maior e que me possuis
Mas na manhã seguinte
Não conta até vinte, te afasta de mim
Pois já não vales nada
És página virada
Descartada do meu folhetim”.