TRÊS MOMENTOS DO PARNASO FEMININO PARAIBANO

Eu me apaixonei pela filha do poeta Severino Dias, Luciene Soares, e a nossa convivência, enquanto ele viveu, foi um eterno sarau. Cheguei a tirar 30 dias de férias em que os passei todos na casa do poeta, declamando em família. Três dos seus filhos se revelaram poetas também: Hércules Dias, Luciene Soares e Gláucia Germana Soares.

Onde chego faço um sarau (nem que seja monologar rsrs). Em Porto Alegre, na Casa de Mário Quintana; Em São Luis, na Escada da Mina; em Curitiba, na Igreja Nova Vida; no Rio, na Biblioteca Nacional; Em São Chico, no Museu do Mar... na Paraíba, por cada beco e esquina. O povo nordestino tem um sangue quente poético como se fosse a extensão do Vale do Pajeú.

As mulheres, já por natureza sensíveis, sobrepujam na produção e na interpretação do belo! Nos dois últimos saraus de que participei, com as poesias de Sérgio De Castro Pinto e de Linaldo Guedes, elas arrebentaram!

Para se ter uma ideia do grande potencial poético feminino da Paraíba, transcrevo a seguir três poemas: 1. O soneto SOL, em decassílabo, de Luciene Soares; 2. O soneto FUGA, em redondilha maior, de Lorena Alysson; e o poema em versos livres de Amanda Vital.

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S O L

É feliz quem nasceu pra colorir

Ter em si a alegria da aurora

Feito um sol benfazejo que a sorrir

Sai beijando por aí fauna e flora

Flor do mal tão somente ignora

E num eterno bailar de colibri

Os amores perfeitos ele namora

Não nasceu para os cactos daqui

E os abrolhos procurem outra pista

Que o jardim onde pousa a sua vista

Tem perfume de Espanca a Florbela

De mãos dadas com a brisa otimista

Leva a vida como um hábil artista

Que imprime a beleza numa tela!

Luciene Soares

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FUGA

Dias inteiros no escuro

Tornando-se o ar rarefeito

Grita: "Não é mais seguro!"

Deseja rasgar-me o peito.

Para ao longe contemplar

O sofrer em mim vivido

E da lembrança estonar

Seu templo... triste... esquecido.

O amargo dá inspiração

Pois faz-me compor este idílio

Que fala assim ao coração:

Do que Deus obrou em rochedo

A fuga sem dEle o auxílio

Não é liberdade, é degredo!

Lorena Alysson

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os outros tinham

olhares atentos

ao tráfego ocupado

mas ela, não!

quis correr entre os carros

quis levar cada buzina,

cada palavra de ódio,

cada pneu cantado

ela ria em rebeldia

e se sentia em casa

no meio da sua rua

tudo sempre passa.

Amanda Vital