PODE-SE VIVER DE LITERATURA?
Em uma das minhas palestras sobre a Literatura de Cordel, alguém da plateia me perguntou: "Dá pra viver de poesia?"
Embora pareça uma resposta fácil, não é! Durante a minha graduação em Biblioteconomia, na UFPB, a Profª Dra. Joana Coeli Garcia ministrava a disciplina Editoração e nos dava a oportunidade de levar editores, autores, gravuristas, lojistas, para discussões em sala de aula, de forma que tive a oportunidade de presenciar as angústias das pessoas que fazem literatura. E, claro, também algumas histórias de sucesso.
Há algum tempo fomos surpreendidos com o cantor Beto Brito, que ameaçou deixar de viver da arte de cantar. Os amigos protestaram e até eu compus três septilhas, motivando-o, que publiquei no Recanto das Letras no dia 04/02/2012:
Oxente, cabra da peste
Tu não podes desistir
Se a tua rabeca é sangue
Da cultura a fluir
E teu Cordel afamado
No Brasil e no Estado
O povo quer aplaudir
Fizeste o Parnaso rir
Mudando a decisão
Permaneças na cultura
No mesmo diapasão
O folguedo Popular
Deves tu sempre exaltar
Para o bem da nação
E não fiques triste, não
Ó, Brito, grande poeta
Porque viver a cantar
É decerto a tua meta
E o povo assim espera
Que o Beto Brito, essa fera
Viva a Cultura completa
Abraços, meu brother!
O romancista Aluísio Azevedo asseverou: "Escrever para quê? Para quem? Não temos público. Uma edição de dois mil exemplares leva anos a esgotar-se...", isso foi no final do século XIX, mas infelizmente me parece tão atual!
E por falar em Azevedo, o crítico Valentim Magalhães afirmou: "Aluísio Azevedo é no Brasil o único escritor que ganha o pão exclusivamente à custa de sua pena, mas note-se que apenas ganha o pão: as letras no Brasil ainda não dão para a manteiga." Tanto é que, não suportando a situação por muito tempo, o escritor fez concurso para o cargo de cônsul, em 1895. Sendo aprovado, abandonou de vez a literatura.
Assim, para responder à pergunta do jovem, não obstante ter passado dois dias aplicando oficina sobre literatura de cordel no SESC DE LETRAS, motivando a juventude, pensei em tudo isso e disse-lhe:
Quer um conselho? Faça um concurso, consiga um bom emprego, para lhe assegurar pelo menos os primeiros anos de escritor.
Meus Deus! Dei esse conselho 120 anos depois da fala de Aluísio de Azevedo! Eu deveria me envergonhar, mas sou muito pragmático para tanto.