A PALAVRA PAZ
E o fim do ano se aproxima. Sim. E como se aproxima o fim do ano. Cada vez mais rápido! Cada vez mais rápido! E as compras e o Natal e o Ano-Novo. Luzes na cidade (mesmo em pé de guerra). Enfeites e, a cada canto um Papai Noel sorridente.
O rastro dos blindados ainda está lá. A imagem dos pneus também. A fuga dos pseudo-homens é nítida. Assim como é nítida a estupefação diante de tudo o que se viu e ouviu e ainda há de ouvir.
E o fim de ano se aproxima. E os sonhos e os presentes e os abraços. As festas em família e a ceia e a oração. Bilhetes e caixinhas num canto, do outro, um Papai Noel de pano.
O desespero e a navalha na garganta e os becos e vielas de outros morros que acordam e dormem sob a lei do fuzil. Ainda há muito que se fazer. E meninos choram a infância perdida. E meninas choram a puberdade antecipada.
E o fim do ano se aproxima. Os ventos que passam pelo Rio de Janeiro tocam o rosto de um PM, o rosto de uma mãe, o rosto de um repórter, um rosto de um trabalhador e outro rosto e mais outro. Em todos eles o alívio imediato e o sonho do amanhã, o sossego esperado, a palavra PAZ. Pressentida, desejada, sonhada, acariciada... A palavra PAZ...