"Procura-se um amor"

Quero um amor sem vergonha de mostrar a cara. Um amor que habite as casas mudas - que já se esqueceram de pronunciar sílabas acariciadoras. Um amor que aprenda a escancarar as janelas da monotonia, que arrebente as portas da solidão e traga as rosas de uma nova estação.

Necessito de um amor que me devolva a crença na humanidade. Um amor que não se aproxime em nada de extremas reverências. Um amor que vença a ditadura do tédio. Um amor que desconheça o tempo de dizer adeus.

Quero descobrir um amor que aprenda a conjugar o verbo compartilhar. Um amor que reconheça a graça de se assistir à televisão abraçado, deitado, enrolado nos lençóis das notícias das madrugadas.

Quero um amor que dispense o relógio da espera. Que passeie pelas praças e que sente em seus bancos, não escondendo a delícia de se apreciar um luar.

Por que não seguimos juntos nessa corrida, em busca do pódium do amor? Por que estamos tão desanimados, contemplando o mau humor? Por que só acumulamos dor, só cultivamos o delírio do desamor? É hora de levantar a cabeça, e seguir sem pressa os rumos do coração - que permanece de óculos escuros, espreitando a chance de ser feliz.

Às vezes, não amamos ao máximo, porque estamos sempre à espera das atitudes do outro para reagirmos - e não passamos de reatores imbecis, alimentando ansiedades paralíticas! Deixamos de aproveitar os melhores momentos da vida, porque estamos armados de escudos. Em outras situações, seguimos em busca de maçãs de amores nunca encontrados - revivendo a síndrome da Branca de Neve.

Vamos deixar de lado os nossos velhos temores, os fantasmas da desilusão, e seguir amando, querendo estar de mãos dadas para enfrentar o mundo.

Vamos ficar grudados em frente ao computador, fazendo cartas de amor. Ou mesmo, dedilhando no celular algum poema. Talvez, deslizando um lápis sobre o papel, deixando escapar algum verso para o ser amado - repetindo antigos estilos de textos. Na verdade, os textos sempre são repetitivos, o que muda é a circunstância, o momento e a pessoa para quem estamos escrevendo (mas os olhos do amor sempre lerão frases repetidas como se fossem novas).

O novo amor sempre traz uma proposta de superação de um desamor e devolve a vaidade perdida no pulsar violento da vida. É a cicatrização de dores. É o hasteamento de bandeiras anunciadoras de possibilidades de felicidade. É como uma canção de João Bosco que diz: “O amor quando acontece a gente esquece logo que sofreu um dia”.

Então espero que o amor aconteça e me ofereça a vida como um sonho. Aconteça e aqueça as mãos frias do meu cotidiano. Aconteça e teça novas possibilidades de inventar um sorriso, um plano de felicidade. É só disso que eu preciso pra me sentir uma nova cidade.

Raul Franco
Enviado por Raul Franco em 29/07/2015
Reeditado em 29/07/2015
Código do texto: T5327991
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