Amar pode dar certo?
Mexendo em alguns arquivos antigos meus, encontro este texto que foi feito por volta de 2001, quando eu escrevia a peça Todo Mundo Amplia a Paranóia que Cria. Era pra fazer parte do espetáculo. Mas depois foi ficando tão pessoal que achei estar destoando de todo o resto que eu escrevi. Por isso, ele ficou guardado esse tempo todo. Agora divido com vocês!
- Eu não tenho medo de me relacionar. Sei das dificuldades que a gente enfrenta para estar ao lado de uma pessoa. Sei dos problemas, da necessidade de se manter acesa a chama do amor. Sei do quanto a gente cresce ao lado de alguém, o quanto a gente aprende com as relações. Sei de um bando de coisas, como se eu tivesse me tornado bacharel no assunto. Mas não chega a tanto. Apenas tive relações importantes em minha vida. Já comi o pão que o diabo amassou. Mas também já sei um pouco do paraíso. Acho que sempre encontraremos estes dois lados da moeda.
O amor não é feito só de perfeição. Afinal, o próprio ser humano não é perfeito. É justamente essa incompletude que nos impulsiona para as grandes realizações, inclusive para o amor. Falo tudo isso, mas já estou só há mais de um ano. Às vezes, é bom ficar só. É que a gente acha precisa de alguém para estar ao lado o tempo todo. Como se a felicidade dependesse disso. E muitas vezes procuramos alguém só porque os amigos ficam dizendo: - “Você precisa namorar, você tem que namorar”. Como se a gente fosse obrigado a estar com alguém numa relação amorosa. Por quê? Não tem aquele ditado que diz: antes só do que mal acompanhado? Mas os paranóicos, os atordoados com a ideia de estarem só com a sua própria pessoa, subvertem o ditado, dizendo: antes mal acompanhado do que só. E é o que acontece. Não se vê a quantidade de pessoas que ficam em relações complicadas, ferindo-se o tempo todo, acreditando em ilusões, só para não estar só? É que elas têm medo de dar um passo sozinhas. Às vezes, não conseguem respirar, se outra pessoa não lhe permitir. E acabam, quase sempre, vivendo relações sufocantes. Mas, por causa disso, não quero levantar uma bandeira em favor da solidão, ou melhor, não estou aqui contra as relações amorosas. Defendo muito a relação a dois. Mas defendo também a opção de as pessoas ficarem sozinhas, desde que felizes. Sei que isso parece papo de psicoterapeuta, mas pensa bem nessas questões. Não estou dizendo absurdos. Estou falando de pessoas, de relações, de felicidade.
Como anda sua felicidade hoje? O que você tem feito por ela? Eu, apesar de sozinho, continuo feliz, curtindo a vida com os amigos. Se estou sozinho esse tempo todo, podem crer, é opção. Acho que isso acontece com todas as pessoas. Chega um momento da vida em que você sente vontade de pensar, de refletir, principalmente, sobre as relações que teve. Estou nessa. E digo que sou o cara mais feliz da face da Terra, porque, a cada noite, escolho uma das minhas ex-namoradas para dormir no pensamento. Penso no que foi bom nas relações que tive. Há momentos em que mesclo tudo: o bom de cada uma, e acabo por ter características de todas as ex numa só. Me divirto e durmo com um sorriso na boca.
Mas, brincadeiras à parte, acho que começo a pensar um pouco no que eu errei em cada relação. No que pude fazer e não fiz por alguém que me amou. Penso no quanto fui egoísta, mesquinho. Penso nos meus podres também. Começo a analisá-los até pra poder avançar um pouco na vida. Muita gente não analisa seus erros e acertos nas relações por culpa da pressa de logo encontrar um substituto para um amor que acaba. Por isso, logo estão levando as frustrações de amores que se foram para amores novos. Ficam novamente entupidas de desafetos.
Então, o que defendo é um certo recolhimento até para se tornar uma pessoa melhor. Parece piegas falar isso, mas quanto mais você se conhece, mais você irá saber que tipo de pessoa você quer ao seu lado. E é bom também buscar um amor que traga realmente nossa felicidade. Nada de confundir amor com algo sufocador, com a eterna fugacidade existente nas paixões. Realmente precisamos amar. Como diz uma canção: “Quando se aprende a amar, o mundo passa a ser seu”. E eu, apesar de tudo, sou otimista: ainda acredito que amar pode dar certo.