SOBRE HOMENS E CÃES

Não sou dos que proclamam que “quanto mais conheço os homens, mais aprecio os animais”. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Respeito as idiossincrasias e o vezo pessoal de cada indivíduo: na minha própria família, há quem não morra de amores por bichos. Tudo bem, ninguém é melhor ou pior por isto, como disse ontem à Síndica do prédio, que, pressionada por dois ou três vizinhos que teimam em implicar com a vida alegre dos meus três Poodle, insiste em me recitar fórmulas clássicas, preconceituosas e injurídicas de regulamentos condominiais, como se valessem mais do que a própria Constituição Federal. Como ela tem sido simpática, não processei o Condomínio, que, depois, choraria os custos de uma refrega que dificilmente não me seria favorável. Passei várias décadas em jejum de cachorros, por circunstâncias existenciais, mas a verdade é que, desde pequeno, a eles me dediquei bastante, tendo, inclusive, sido obrigado a fazer duas séries de injeções dolorosas subcutâneas contra a raiva, por vinte e um dias em cada uma dessas séries. Tempos encantadenses, assombrações do mês de agosto, coisas de um passado distante, que nos tornou velhos mais fortes e curtidos. Hoje, por exemplo, minha recente amiguinha, a cachorrinha Baby, mãe de Chopinho e ex-esposa de Bidu, que resgatamos das plagas torrenses praticamente cega, retornou do oftalmologista - com aparelhagem moderna - sem qualquer esperança de recuperação da visão. C’est la vie. Mas o que me levou realmente a escrever agora foi a peculiaridade das ruas de Bariloche, portas de hotéis e de alguns restaurantes: o grande número de cachorros aparentemente abandonados, todos de grande porte, bonitos e relativamente bem alimentados pela cidade e seus visitantes. Claro, compramos comida ou separamos alguns restos de nossas refeições para brindá-los. Ninguém conseguiu me dar uma explicação cabal para o fenômeno. Muitos disseram que eram cães com proprietários e deixados livres, mas me pareceu mais uma escusa, uma defesa, uma justificativa do que verdadeira explicação. Seja como for, eram belos cachorros afáveis e, de um certo modo, passaram-me uma sensação positiva sobre a interação mais nobre de homem e animal naquela deslumbrante paisagem, que é um dos polos turísticos mais importante das Américas.