O Home e a Criatura

O TEXTO É ESCRITO EM DUAS VISÕES... a DO HOMEM E O DA CRIATURA PÁSSARO.

Ele se sentia só, mas definitivamente não tinha tempo para relacionamentos. Ter uma namorada significava envolvimento e envolvimento significava ter que apresenta-la aos pais, ir a casa dela, almocinhos em família. Não! Ele não queria isso. Envolvimento significava também dividir o tempo, amar, entregar-se. Não! Ele era muito egoísta para isso. Então ele resolveu viver sua vida de solteiro, bem vivida. Tinha o emprego dos sonhos, viajou o mundo, conheceu mulheres lindíssimas.

Mas ele se sentia só.

Então resolveu ter um animal de estimação. Não poderia ser gato ou cachorro, daria muito trabalho. Um pássaro pequeno seria solução, daria água e comida, limparia a gaiola. Nada de mais, bem prático e poderia ter algo belo para olhar de vez em quando.

Comprou o pássaro e a gaiola...

*A pequena criatura chegou dentro de sua gaiola, com o coração cheio de alegria. Finalmente havia sido escolhida, não iria se sentir sozinha, teria alguém para alegrar. Foi como um sonho o homem a agradava, lhe dava comida e ficava admirando. Era a criatura de pet shop mais feliz do mundo. Tinha um dono!

Tiveram dias muito felizes um com o outro. O que a criatura não sabia é que homem enjoa facilmente das coisas e com o tempo ela deixou de ser interessante.

Ele percebeu que mesmo sendo uma criatura pequena, ali dentro da gaiola tinha muito trabalho. Cuidar da criatura exigia um pouco de tempo e o homem percebeu que a criatura era um pouco exigente: Gostava de ser admirada, queria atenção. Ficava deprimida quando não lhe afagava a cabecinha e até parava de cantar. A criatura exigia dele algo que não poderia lhe dar: amor.

*A criatura logo percebeu que havia algo que ele não poderia lhe dar: amor.

Ela não estava ali para ser amada. Era apenas parte da mobília. Estava ali apenas para decorar a vida do homem.

Às vezes ele se esquecia de alimentá-la, ficava ali presa na gaiola com fome e com frio. Quando estava quase desistindo de viver, ele vinha correndo e a pegava no colo e pedia desculpas. Dava o alimento e a água e dizia que tudo iria mudar. Mas a lição logo foi aprendida: Nada mudava e logo tudo voltava ao que era... Indiferença.

Ele não sabia o que fazer, pois queria apenas um animal de estimação. Mas tinha nas mãos uma criatura que exigia dele atenção, amor e comprometimento. Arrependeu-se amargamente daquela aquisição e não sabia o que fazer com aquela criatura pássaro cheia de amor e carinho.

Ah! Mas ele sabia sim o que fazer. Seria cruel, mas ele precisava acabar com aquilo! Quando se quer colocar alguém de escanteio sem dar o fora, o que se faz? Ignora. Passou a ignorar a criatura. Dava a comida e a água, mas deixava-a ali... Não falava mais com ela, não a pegava no colo, só fazia o básico para que a criatura não morresse, afinal um dia podia precisar.

Então ficou assim: O homem a alimentava para que não morresse de fome e sede. A criatura sonhava com o dia que ele mudaria e a olharia e a alimentaria com algo mais que pão e água.