SOLIDARIEDADE

Quando Maneco ia à escola, Pedro não ia... não ia Maneco, se Pedro fosse. Todo o mundo se perguntava o porquê desse desencontro, já que Pedro e Maneco eram, sabiam todos, vizinhos e amigos. Brincavam juntos, pescavam, jogavam bola e brigavam com outros meninos... apenas não iam estudar juntos, nem nos mesmos dias. Ambos moravam em um bairro bastante pobre, onde as valas a céu aberto eram muito comuns, as ruas muito barrentas e as poças d’água duravam dias, chegando a criar girinos. Suas casas eram de estuque e cobertas de velhas telhas enfumaçadas pelos fogões a lenha nas respectivas varandas. Pobreza igual à dos demais moradores daquela comunidade que só era lembrada em épocas eleitorais. Quanto à escola pública, distava uns dois quilômetros.Um dia, professores e diretores se deram conta desse detalhe. Por consenso, alguém faria uma visita aos meninos, para entender as faltas e comparecimentos em dias diferentes. Poderia ser algo facilmente solucionável. Se assim o fosse, uma boa conversa talvez desse termo ao provável problema e tudo ficaria bem.A boa conversa foi desnecessária, diante do inusitado: já que a escola não mais dispunha de uniformes e a camisa de um dos garotos fora roubada em pleno varal, Pedrinho e Maneco partilhavam, fraternalmente, uma só camisa. Desta forma, tinham que estudar em dias alternados, pela obrigatoriedade do uniforme completo na escola e, nos ônibus, onde só assim se garante a gratuidade. No dia em que todos nós acordarmos para a grandeza e a necessidade de sentimentos como solidariedade e abnegação, garantiremos o tão propalado mundo melhor. Basta sermos alunos (da existência) tão aplicados quanto Maneco e Pedrinho.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 16/06/2007
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