Sua EXCELÊNCIA sabe o que é exercitar o FEIO?
“As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental”. Vinicius de Moraes. O que há de diferente entre o Belo e o feio, sendo que ambos habitam o mesmo território? O número de letras não deve ser; sobretudo, por que tanto uma palavra quanto a outra, são compostas por quatro letras. Então, o que faz com que aplicabilidade delas sejam tão diferentes?
Desde os tempos mais remotos, enaltecer o corpo e valorizar o belo representava o potencial humano e suas fantasias mitológicas. Na Mitologia Grega e Feniciana, Adonis foi considerado o homem com poderes sobrenaturais de beleza. A masculinidade do mito resplandecia as íris dos olhos e arrebatava os corações. Quem se propunha a estudar o belo partindo dele, rapidamente dava conta que era impossível dar conta da pesquisa, tamanha era sua beleza. Adonis ultrapassava os limites do visível e irradiava beleza até para as vistas cegas.
Quem sofreu o complexo da feiura na pele foi Sócrates; mesmo por que, embora fosse considerado o senhor de inigualável sapiência, não fizesse milagre e comparado a Jesus Cristo, era destituído de qualquer beleza exterior e consequentemente, feio de fazer arder e turvar as vistas. Por sorte e quebra do paradigma, o oráculo de Delfos não levou esta realidade em consideração e conclamou-o como o cidadão Atheniense de maior relevância para a Filosofia e cultura da Grécia. O contraponto é que um copo de cicuta pôs fim, não em sua feiura, mas apenas em sua sapiência. Sua postura, retidão e critica diante da sociedade e Estado o condenaram.
Quer coisa mais bela que a robustez da jovial virilidade? Chega ser poético, quando não, redundante. Existe o desqualificável no Neymar, onde o corpo, o olhar de soslaio, a profissão e coisas mais fazem dele um símbolo, uma beldade como homem? Apenas exemplo, mas como ele, existe aos montões por aí. O mesmo aplica-se as mulheres: quem resiste a silhueta de uma mulher desfilando a seu lascivo charme dentro de um vestido colado? O batom vermelho na boca de uma dama, que passando a língua suavemente contra os lábios, insinua uma noite devassa? O Belo fascina. Embriaga. Fisga!
“A beleza para mim é importante. Eu amei feias lindas, feias interessantes. Namorei muita mulher que eu considero esteticamente de nenhuma beleza, mas eram mulheres interessantes, mulheres que tinham alguma coisa”.
Vinicius de Moraes tentou despistar, remendar, justificar a sua primeira versão sobre a beleza feminina; mas é evidente que ele como poeta e artista que foi, primava pela beleza física da mulher; sobretudo, as violadas curvas femininas além de inebriar, inspiram os poetas. Já o feio é melancólico, depreciável, deprimente. Um é alvo como a neve, o outro é breu soturno.
Por sua vez, como representar o feio? Talvez estejam naqueles velhos Ingleses de guerra, que detidamente observavam ansiosos as portas de entrada do Depósito de Máquinas Emperradas, esperando visitas que jamais apareceram. Foram enxotados, amontoados, apinhados naquele lugar e ali permaneceram. Pelo visto, definharam ali; pois máquinas são excelentes se estiverem em movimento, produzindo sem ranger as engrenagens, economizando lubrificantes, sem gerar custos adicionais, etc. Caso contrário, serão eliminadas à base do automatismo pelas enferrujadas engrenagens do tempo.
Máquinas emperradas necessitam de carinho espontâneo, autêntico, atributos que estão extinto do âmago humano. Necessitam de paciência para ouvir os seus desalentos; examinar minuciosamente à procura dos problemas, ocorrências e traumas; cautelosamente aplicar os reparos porque o coração e artérias não suportam doses elevadas de medicamentos, cirurgias e fortes emoções; enfim, para conviver com máquinas velhas é preciso entender de velhice e como escrito nas Escrituras, ter paciência de Jó. Ser mecânico de máquinas emperradas não é nada fácil; soma-se aos requisitos, a escassa Literatura sobre o assunto! Sobretudo, por que o conhecimento e o pseudo-humanismo gravitam em torno de teorias e títulos.
Produzem curso para tudo; exceto para repensar o conceito sobre o que é socialmente igualitário ao Belo, e aderi-lo. Emperrados como máquinas, os Ingleses não teriam nada a dizer, nada mais seria útil socialmente? Experiência demais induzindo-os aos vícios inócuos?
Van Gogh realmente devia estar mergulhado em mundos alucinados, dominados pela depressão, quando por conveniência, cortou a orelha e através dessa horrível insanidade, pintou o seu autorretrato. Que beleza há naquilo, que avaliam em milhões de dólares?
Enquanto o feio é um exercício de paciência envolto na razão, o belo é a representação das vazias emoções e forte agente/vetor das confluências do poder. Por vezes, ser belo é atingir a plenitude do nirvana social. Um necessita do amor ágape o ou de olhos evasivos, por vezes canalhas!
Mergulhando um pouco nas águas plácidas e veneradas do Belo, quem recusa o sorriso, ou mesmo o choro de uma criança? Protegidas por lei; são tratadas como cristais intocáveis. São as primeiras em tudo; idolatradas por ser novas em folha. Tenras!
E os Feios, quem os defendem e onde irão parar? Retornariam aos tempos mais imemoriais; isso por que os tempos modernos não toleram o horroroso. Fujam Filósofos, Físicos, Druidas, Alquimistas, Iluministas, Jesus Cristo, Leonardo da Vinci, Arquimedes e muitos outros, porque a época atual pertence ao Belo. Pensando melhor: fiquem. Afinal, as abalizadas teorias e o conhecimento humano desabariam, cairiam por terra, devolvendo o mundo às trevas. O que os Feios pesquisaram, estudaram e construíram com suor e lágrimas de sangue, o Belo usa sem o menor questionamento. Foi-se a época dos porquês. Estando pronto, fácil é usar.
Há certas teorias, ensinamentos, teses humanistas e conceitos programáticos impostos pela sociedade que por mais que eu tente acomodá-las nas prateleiras, o meu museu recusa a aceitá-las. Este ambiente de relíquias amorfas é como os meus espelhos cristalinos: mesmo que evidencie a imagem, importam-se é com o não visto. Estranho a rejeição e seleção natural desses objetos; mas tenho que aceitar. Quem sou eu para ignorar quem está além das fúteis superficialidades! Pelo visto, deve-se prevalecer o que foi dito em certa ocasião pelo espelho: “as relíquias que estão tentando aprender a preservar, eu e as prateleiras de vosso museu, dispensamos”.
Assim começou a rebelião de erudição e insanidade. Naquela época aceitavam o que é Feio.
No dia em que investirem o passatempo dos desfiles de moda nas passarelas dos hospitais, o Feio tornará humanamente Belo; enquanto isto não acontecer e jamais acontecerá, deve-se acreditar e admirar apenas o Feio dos cafundós de mundo, aquele que não conheceu e não se importa em conhecer a podridão do Belo dito moderno e intelectualizado; afinal, esses são reis que fazem da beleza, as gravatas que estrangulam os súditos.
O Feio é prisioneiro do Belo. É vida e morte. O belo faz morada no paraíso do Éden e o feio é a queima no boralhos do inferno.