CASA de uma PORTA só: a CASA do futuro
A arquitetura mundial por muitos anos reverenciou o arquiteto Brasileiro Oscar Niemayer, que dizia ser socialista por princípios, mas que em seus projetos e obras o que mais se vê é a arte através do concreto; e concreto juntamente com o petróleo, são os marcos do capitalismo.
O memorial da América Latina é um exemplo notório de seus projetos; pois no espaço aberto, que poderia ser um majestoso e florido parque, faltam bancos, árvores, coqueiros, pássaros, chafarizes, jardins, gramados, fontes luminosas e se faltam tudo isto, falta também a descontração humana; no entanto, o grandioso espaço foi milimetricamente concretado. Será que o arquiteto sabia que construir de maneira ecológica é investir em humanismo, o que também representa fielmente a integração e ação socializadora entre os seres vivos?
No dito popular, “Quem casa, quer casa”, para certas espécies, quem acasala quer ninho, ou uma boa casa. Partindo deste pressuposto, o pioneiro na Bio-arquitetura mundial é a ave João de barro, ou Forneiro de nome científico (Furnarius rufus). Sabiamente, o pássaro pertencente à família dos Furnariidae, implanta a moradia em lugares protegidos contra a ação da chuva, rajadas de vento, excesso de sol e quanto mais equilibrado acusticamente for, melhor. Por ser curioso do ocaso ao longe, constrói em lugares, modo que a vista panorâmica do local ao longe esteja sob seus olhos.
As matérias primas são a argila (barro) de textura e dureza apropriadas, qualidade, a palha e o esterco mole; resultando numa mistura argilosa de excelente vedação e isolante térmico. A questão do acabamento e estética arquitetônica são dois itens à parte, cujo estilo que lhes é peculiar, embelezam e dão o toque de charme e bem estar à residência do casal. Indiscutivelmente, as residências temporárias dessas aves são um dos ninhos mais laboriosos e bonitos, dentre todas as espécies de aves e pássaros.
Eu quero uma casa no campo,
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé,
Onde eu possa plantar meus amigos,
Meus discos e livros,
E nada mais”.
Essa estrofe da letra da música “Casa no campo” de Zé Rodrix e Tavito, interpretada por Elis Regina, poderia muito bem ser o texto na íntegra; afinal, apenas essas quatro linhas finais da música retratam com clareza e certa dose de incerteza o que seria os anos vindouros; isso porque, bons e verdadeiros “amigos” não se plantam facilmente – na realidade não nascem mais-; “discos e livros” são para quem prioriza a cultura e o conhecimento em vez de diplomas e status, por isso acompanham os “amigos” e para piorar, nada daquilo que foi escrito nas duas primeiras linhas, não servem nem para reflexão, pois aqueles que cresceram cercados pela selva de pedra, tragando e ardendo os olhos com os tufos de fumaça dos escapamentos de carros e aquecendo-se nas labaredas de fogo desprendidas pelas chaminés de indústrias, jamais querem saber de “casa no campo, de tamanho ideal,
pau-a-pique e sapé”.
Para os compositores, uma vida simples, modesta e comezinha, onde pode-se desfrutar de ar filtrado pelas florestas, cumprimentar os vizinhos ao alvorecer do crepúsculo, prosear com as estrelas sob o clarão do luar, bebericar um bom vinho caseiro acompanhado de nesgas de queijo ao lado do fogão à lenha; ouvir o chuá sonolento das águas, bem com o rangido da pedra mó esfarelando o milho no moinho; o bater do “carneiro hidráulico” elevando água cristalina ao reservatório, o carro de boi carregado “gritando” no despenhadeiro, degustar de um fiapo de carne defumado diretamente no jirau, tomar banho relaxante de chuveiro de serpentina, colher flores no jardim para adornar as grandes mesas de madeira em vez de flores de plástico, são coisas de pessoas anacrônicas, ultrapassadas e cafonas. Entre o campo, cuja moradia poderia ser ecológica e o apartamento decorado pelo concreto, a preferência é pela praia e o alçapão do apartamento à liberdade e o bem estar do campo.
Nesse emaranhado de realidades, veio à tona a questão da degradação do meio ambiente, escassez dos recursos naturais e consequentemente, os questionamentos dos meios construtivos urbanos como parte da degradação ambiental; com isto, criaram-se as teorias das construções ecológicas.
Entretanto, as novas metodologias construtivas foram trabalhadas em cima dos materiais que já eram usados nas construções e técnicas rudimentares, que até então, eram os colonos, os sertanejos e os camponeses que faziam uso. As alvenarias eram construídas trançando bambus - taquaras - entre os mourões - esteios - e vedados com barro - argila - que poderia ser mexidos com um pouco de outro material para melhor coesão da mistura e resistência ao cisalhamento.
Atualmente, oriundo dos projetos rodoviários, a argila pode ser misturada com o cimento; o que melhora as propriedades físicas e a estética da alvenaria. O telhado era feito com sapé e o forro trançado de taquara. O piso era o próprio chão bem apiloado (batido). Janelas de madeira e a casa pintada com tabatinga, material este retirado nos barrancos de argila colorida e posteriormente trabalhado para tal finalidade. Fogão à lenha, jirau para defumar carnes, chuveiro à serpentina, iluminação à base de candeeiro, etc.
Esse tipo de construção foi bem usual nos meios rurais no século passado e a explicação era o custo, aliado às condições financeiras da população. No Sul, região em que os povos são mais conservadores de suas raízes e origens, ainda encontra-se inúmeros galpões construídos assim. Por ironia, os tempos passaram, mas os bons exemplos estão retornando e esse modelo de construção se enquadra nos novos modelos de construção ecológica.
Atualmente as rústicas construções de taipa deram lugar às construções que chamam de construções ecológicas, o que em partes também se deve às inovações e metodologias técnicas; pois o projeto de uma casa ecológica prevê, além daqueles itens elementares das construções antigas, sistema de captação e reutilização de água, tanto pluvial quanto de uso doméstico; preocupação com o sistema de iluminação; geração de energia; destinação final do lixo residual; materiais a ser utilizados na construção; cuidados e manutenção da área verde circundante; preservação das nascentes, captação de água potável, etc.
Daí, para que sejam atendidos de forma plausível e satisfatória todos os quesitos de uma construção ecológica e sustentável, torna-se preponderante a elaboração de um projeto executivo.
Embora que essa premissa tenda a se expandir para os grandes centros, há uma dificuldade muito grande em implantar projetos como o descrito, pela simples razão que os espaços urbanos para construção são pequenos, enquanto que a população cresce sem precedentes. No entanto, os projetos dos conglomerados verticais – prédios - podem conciliar entre os materiais convencionais e os modelos alternativos de construção; tais como, iluminação, sistema de captação de água, pintura, etc. Embora raros, existe uma tendência ecológica em tais construções, caso especifico dos prédios orgânicos, os quais incluem espaços e fachadas verdes em seus projetos cuja finalidade é o sequestro de carbono, melhoria do ar e absorção de parte dos poluentes em seus ambientes internos.