DESABAFO
A culpa fria da ganância
Não sabe que morrer é convocar os deuses.
Em minha lápide tentarei
Escapar aos versos de que fui um homem bom.
Cidadão de bem coisa nenhuma.
O mérito da vida é colecionar inveja,
acaso sabem os senhores do tempo que apenas
a saudade é a vaga na memória?
Alguém escreve em linhas térreas que futuro está no alto,
Ninguém escolhe viver de tristeza,
Quem quer a mágoa por cima do café da manhã?
Amor que não se toca é desespero.
Ver-se em alguém que não está nem aí acaba em confusão.
Desanima. Fustiga. Ata.
Quero poder que me grafem o meu nome na pintura
Como alguém que ceifou a própria orelha
Sendo quem denunciou a própria vida
Tanto quanto aquele que embargou a felicidade,
E se sente realizado por desabafar sem sacrifício.