COISA DE GENTE
Ouvi um jovem asseverar que esse negócio de ecologia, de amor à natureza é coisa de “frutinhas”. Lamento a conotação preconceituosa emprestada à afirmação, mas por outro lado, concordo: É mesmo coisa de frutinhas (neste caso, sem aspas) que exercem a sagrada função de alimentar os pássaros, os macacos e tantas outras espécies, ajudando a compor o ciclo alimentar da selva. Frutinhas que espalham suas sementes reciclando os pulmões da terra, sendo o caso de nós, humanos, permitirmos que ocorra esse processo.Gente mais engraçadinha e grosseira diz que é coisa de “veadinhos”, dando a mesma conotação lamentável. Volto a retirar as aspas, para concordar: de fato é coisa de veadinhos, peixinhos, oncinhas, jacarezinhos e inúmeros outros filhotes que a covardia humana deixa órfãos, matando ou aprisionando seus pais, para fins de indústria e comércio. Muitas vezes, "predando" os próprios filhotes por simples diversão, em nome do esporte ou de seja lá o que for, como se houvesse o que justifique tamanhos desrespeito e crueldade.Tenho certeza que uns e outros hão de julgar tudo isto uma grande “frescura”. Quem dera fosse. Quisera existisse ainda aquela frescura própria da primavera; seu bom hálito acariciando nosso olfato; a brisa mansa de outono sem infestação de vírus; o inverno e o verão temperados e pontuais, livres de flagelos. Mas não. A mesma insensibilidade já cuidou de baratinar as estações, tornando os climas mortais ao garantir a destruição do espaço, cavando imenso buraco na camada de ozônio.Vendo que o homem – quase especificamente o homem – olha pras questões ecológicas de forma tão pejorativa, chego à conclusão de que além da ganância, do egoísmo e da estupidez, o desrespeito à natureza tem raízes no machismo. A caça esportiva, por exemplo, assim como a pesca predatória, são as mais bizarras demonstrações de um machismo doentio, truculento e cego para os riscos que o planeta corre.Mais do que de frutinhas e veadinhos, preservar a natureza é coisa de gente. Gente sã, informada e de consciência. Que ama ao próximo, a si mesma e pensa no futuro, preocupada com o mundo que deixará para os filhos, netos e demais gerações. Se depender dos gananciosos, egoístas, estúpidos e machistas que se multiplicam, as gerações futuras não terão onde viver (ou nem haverá gerações futuras). Evitar essa catástrofe cabe a todos que têm visão, discernimento e sensibilidade.