METÁFORAS Prisioneiras das SOMBRAS.
O povo Brasileiro anda às turras com a própria sombra. Amedrontado, desconhecem as cores do arco-íris. Cabisbaixo, quando podem, lançam tudo numa frase só para não perder tempo e assim, evitar que os seus pormenores sejam reconhecidos; afinal podem ter algo clonado e desejado. Cobiçam tudo. Incluem-se nesse matulão de cobiças a mulher (ou homem) do(a) próximo, basta não estarem próximos. O medo é mero coadjuvante à aventura.
- Nome e profissão senhor.
- Antônio Atônito Autônomo Antônimo de Autômato Anônimo Filho.
Com a voz embargada, atropelamento de palavras e falta de clareza, complica inclusive a fonética, travando a língua de quem tenta repetir o que se ouviu.
O pouco de segurança que os cidadãos enganosamente aparentam, reside no andar apressado com os olhos saltando da órbita ocular, como se estivessem numa disputa de marcha atlética. Sempre pensando: "Além da minha, quantas sombras mais caminham ao meu lado"?
Fala-se em fim de tarde com céu em arrebol crepuscular, descontração familiar sob os quiosques, mas na realidade preocupa-se mesmo é com a posição de sua sombra. Ora na frente, ora nas laterais, ora atrás, ela segue inexoravelmente os passos do andante.
Aqueles que se metem a viver o êxtase do conforto em condomínios, o faz com grades nas janelas, cercados por altos e tenebrosos bunkers tijolados recobertos com pontas de caco de vidros cortantes; de modo que nem gato caminham sobre eles. O detalhe é que não vivem 365 dias por anos trancafiados em seus aposentos. São obrigados a saírem para buscar a provisão da prole e é nesta, que a fobia do medo o afronta. Humanos que amedrontam humanos! Poesia chafurdada debaixo das sombras. Que poesia há nisto? Em que nuvem sombria foi refugiar-se o enluarado brilho das estrelas?
Os carros, nestes ninguém sabe quem está lá dentro. Os vidros escuros, com potentes travas e blindados, dão a nuance que são autossuficientes e se guiam sozinhos. Fora o cheiro e o ar de arrogância que saem pelos escapes, caso tenha alguém que o conduza, jamais descem os vidros para respirar. Caso o faça, os óculos tamanhos lua cheia tapam-lhe os semblantes. Sorrir? Nem o riso carrancudo. A máquina transforma homens em máquinas. E as máquinas em homens! Homens e máquinas: efeitos da poesia?
As mulheres, (nesse contexto, quando não são coitadas, certamente são infelizes) transitam em meio à multidão varrendo com os olhos cobertos, os arredores. Com as mãos atarracadas na bolsa, ainda mais sabendo que carregam tudo, podem os olhos lacrimejar e borrar as maquiagens devido a poluição e o desprazer de medrar-se com as suas próprias sombras, mas nem piscam. Sentem-se presas fáceis até dos próprios descuidos. Por não serem Amélias e estão sob as vestes das inseguras sombras,
exalam perfume; porém, nada exalam de poesia. Confundem-se sentimentos com automatismo; e o que há de poesia numa mulher automatizada?
Criaram o dinheiro de plástico porque o de papel era calote garantido, no entanto, os hackers e inteligências mais, trataram de criar algo que tornassem os seus presságios mais relevantes e sinistros; com isto, dinheiro em espécie é como alguém que se propõe a comer lesma ou funcionário público dedicado à função e trabalho. Sabe-se que existem e comem; todavia, nunca estão na ativa. Possuem os fluidos magnéticos da benzina: deixou aberto, evapora, some.
Se alguma transação ou pagamento tiver que ser feita em dinheiro, colocam o empecilho que as sombras podem acarretar problemas aos mercantes. A saída é apelar para o cheque administrativo que por enquanto, dizem que é dinheiro garantido. No entanto, se uma das partes endurece o negócio e exige o pagamento em espécie, o comprador (pagador) logo impõe a forma como pode fazer isso pelo bom andamento da negociação.
Após alegar uma série de inconvenientes em transitar com dinheiro, faz algumas indagações e propostas, tais como: “É que trabalho. Tenho que pegar ônibus e metro lotados. Tenho medo de carregar comigo o dinheiro. E se minha sombra resolver se rebelar e quiser me atacar? Sempre ouço nos noticiários histórias de assalto neste país. Façamos o seguinte: pagando em dinheiro, combinamos que caso eu seja assaltado, não pago o valor negociado. Concorda? Justo, sim? Ou ainda, escondendo-o das sombras, você me concede um desconto pela insegurança por trazê-lo em espécie”.
E nesta gangorra de ser consumido pela própria sombra, provavelmente, tenhamos que pagar até pelo medo. Aí, a moeda de troca do dinheiro em versos e prosa ascenderá das raízes imorais da poesia. E se a moda de pagar pelo medo pegar, não vai haver mais herói no mundo. Seremos eternamente covardes. Fóbicos de atitudes e parasitas depressivos das quatro paredes. Portanto, mais uma vez: que poesia há nestes caos sociais? Onde a fantasia e o belo inigualável da poesia se meteram? Haja abertura debaixo das camas para esconder tanto medo e aturdimento!
O medo é um sentimento que impõe barreiras, impede realizações, embaralha as vistas e anuvia os sonhos. É um fantasma encapuzado atormentando o medroso. Quando não, é o rugido de um leão faminto, anunciando à presa, que se ela quiser manter-se viva, que mantenha distância. E a presa, ao distanciar do rugido do leão, distancia-se de todos os planos elaborados. O firmamento do céu cai por terra. Mas, em contrapartida, o pensador Ralph Waldo disse que “o medo é um instrutor de grande sagacidade”. Talvez seja por isso que em praticamente tudo, temos a frente e o verso. A ação e a reação. A causa e o efeito. A cara e a coroa. O sim e o não. A planície e o espigão. O doente e o são.
Sendo ele uma sombra ameaçadora, também é parte dos motivos da debandada de farofeiros que em outros tempos faziam piquenique nas praias. Quem se atreve a correr para defender a farofa? Se não levaram com filé mignon, assaltam a farofa mesmo; com ovo cozido é mais visada. Sombras comem razão e destroem emoções! É melhor comerem a merenda farofada com frango, arroz e maionese assistindo o futebol, Faustão, Luciano Huck, Datena e cia, no “conforto” do divã de casa. Pelo menos, lá estarão sob a liberdade vigiada; porém não totalmente livres de suas maquiavélicas, infernais e meliantes sombras. Mais uma vez: qual o paradeiro da poesia? Tudo tão sinistro. Nada de flores. Bronco. Nada de jangada valsando em águas ondulantes. Maquinado. Nada de ocaso azulado. Embrutecido. Nada de risos lisonjeiros de crianças. Robotizado. Poesias não cruzam com as vicissitudes e devassidão sombreadas. Computadorizada! Na poesia fantasiada, obrigatória é a plumagem transcendente, possuindo poderes de flutuação. Espacial. Atemporal. Divinal. Enquanto que em Terras tupiniquins, a insensatez sombria da sombra, assombra. Sórdida! Miserável! Meliante sombra!
Em virtude desta paranoia ambulante, que é a sombra aterradora à qual o Brasileiro vai se vendo derrotado por aquilo que deveria dominar, deixa de expandir os conhecimentos, frequentar ambiente recreativos com liberdade, qualificar-se de amizades, caminhar extrovertidamente pelas ruas e avenidas, bebericar um bom vinho e comer um petisquinho ao ar livre; enquanto toma banho de sol, ler um livro em parques públicos, ir à cinemas e teatros, jogar conversa fora, divagar os emotivos sentimentos em poesias, etc. Não, nada disto é possível, porque em todos os lugares que se vá, a sombra do medo com seu semelhante auspicioso e aterrador caminha ao lado do andante. Em que sepultura abismal arquivaram a poesia?
A carruagem segue caminhos esburacados, obscuros e funestos. Atormentadoras nuvens ameaçam despencar a todo instante sobre as mentes que tentam burlar essa Nova Ordem Brasileira. Embora não escrita na constituição, ela paira em todos os cantos; por sinal, com ou sem Letras, em todos os Recantos. Uma vez que é desgastante para o atormentado, estou sendo atormentado pela minha; portanto, termino sem saber que poesia há nesta prosa poética.
- Se você não sabe, eu sei: continuarei no seu encalço. Tenaz. Assaltando o seu silêncio e sono, sombras não cometem pequenos erros: causam terremotos até em dias de chuva torrencial. Vendaval! Quem nos forjou sob o incêndio absoluto, que nos fizessem sob o manancial de água apaziguador; porque armazenar água de agora em diante, never more!