QUEM É O GOLEIRO?
Domingo próximo será o DIA DAS MÃES, que, no Brasil, ao menos, é mais importante que a Descoberta, Independência, Tiradentes, Páscoa, República, Dia do Trabalho e muitas outras datas badaladas, exceto Natal e Ano Novo. Afinal, mãe é mãe e nem o nosso próprio aniversário é tão repleto de significados. Azar dos pais, que, muitas vezes, não tocaram e nem carregaram o piano, abandonando as companheiras num concerto solo, por isto ou por aquilo: a "categoria" toda acaba pagando o preço. De qualquer modo, teorias sociais à parte, mãe é a que gera, amamenta, aquece, acarinha, consola, embala, cuida e se joga de corpo e alma na missão. É a força telúrica, a inspiração, a emoção em estado puro. Isto deve bastar. Na véspera da data festiva, com todas as suas liturgias, quero repetir uma história cometida por minha falecida mãe, Maria do Carmo, que bem revela a sua conhecida espontaneidade. Vale também como homenagem especial que desejo prestar-lhe, já em andanças por diferentes planetas e tempos.
Há alguns anos, quando eu ainda trabalhava, num dia qualquer da semana, após o horário de almoço, fiquei retido por outros compromissos e cheguei pouco mais tarde ao ofício. Estava já a lidar com documentos e chatices, quando um colega advogado, que laborava ao lado, muito circunspecto, veio anunciar que minha mãe havia ligado. Ora, a "velha", com bem mais de 80 anos, tinha saúde delicada, embora fosse pessoa de personalidade marcante e temperamento forte. Como não costumávamos nos falar a toda hora, preocupei-me, é claro, e apanhei o aparelho para ligar de volta. O colega prontamente me interrompeu: "Não, não liga, já resolvi o assunto". Fiquei um tanto espantado, ele explicou: " Tua mãe perguntou se era do teu escritório (eu trabalhava, então, numa organização bem grandinha) e confirmei; ela quis saber de ti, disse que ainda não havias chegado, coisa e tal, aí ela perguntou se eu entendia de futebol. Fiquei um tanto sem jeito, estou habituado a responder consultas de diretores e gerentes sobre questões jurídicas, mas falei que entendia mais ou menos. Então, ela me indagou como se chamava o goleiro do São Paulo Futebol Clube. Graças a Deus, eu sabia que era o Rogério Ceni. Ela ficou faceira e disse que era isso mesmo: estava fazendo palavras-cruzadas do jornal e faltava-lhe justamente esta informação, que não estava lembrando". Assim minha querida mãe ia conduzindo a vida e resolvendo todo e qualquer problema, com naturalidade, de modo direto e senso prático.