Não salvar

Aquela clicada em não salvar pôs todo o trabalho da manhã por água abaixo. Pior que não foi a primeira vez - Shit.

Que cagada!

Não iria refazer – não mesmo.

Sorte que o tapa pegou no meio da tela. O computador permaneceu inteiro. Mas o resto do dia foi de branquear o cabelo de raiva. Justo este que tinha ficado perfeito:

- ô se tinha.

Até tentou buscar na memória o básico do que tinha escrito. Pouco lembrou além da parte onde ela, já na ala feminina do Madre Pelletier tinha assumido o romance com a Lorenona, sua colega de cela.

Faltava-lhe a certeza de como ela tinha acabado na penitenciária.

Se estivesse certo, ela tinha matado o Alemão com um golpe de taco de snooker na noite da natal de 2008.

Apavorada escondeu-se nos fundos da casa, mas os policiais na primeira investida já a avistaram.

Além de prendê-la acabaram com o pé de chuchu que cobria a cerca. No dia seguinte Dona Inácia vasculhou o terreno, mas não encontrou nada que pudesse ajuda-la na defesa.

Na primeira audiência alegou legítima defesa, mas a acusação trouxe uma testemunha chave que derrubou esta hipótese.

O advogado, naturalmente, recorreu. Mesmo que livrá-la seria impossível, tentava a pena mínima prevista por lei.

No presídio Tonha não se encontrava consigo mesma. Sentia-se frágil. Sofria ameaças de toda ordem. Por ser uma mulher atraente despertava inveja e desejos nas próprias colegas.

Em busca de carinho e segurança aceitou a aproximação de Lorenona.

Aliás, não demorou muito para todas ficarem sabendo disso. Um programa de TV propôs entrevistar o casal – Lorenona concordou – e assim fez. Tonha ficou chateada.

Sabia que já tinha dado um final para as duas, mas já que perdeu tudo o que escreveu podia mudar.

Estava convencido por si só que deveria retomar o texto, refazer com o pouco que lembrava e criar as outras partes.

Poderia uma delas, matar Odete Roitman, assim finalmente o mistério seria desfeito.

A cabeça a mil já bolou o final para as duas. Riu feliz da vida.

Ligou o PC, reabriu a página e decidiu escrever primeiro o final pra não esquecer. Elas iriam...

Caramba, pensou, preciso saber como faz para salvar automaticamente.

Foi pro Google tentar descobrir.

Moacir Luís Araldi
Enviado por Moacir Luís Araldi em 03/05/2015
Código do texto: T5229651
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