Uma quente insanidade
Sentar ao teu lado e ouvir todas as palavras que por anos ficaram presas em teu coração. Tomar um gostoso vinho que foi envelhecido por nosso amor tão romântico. Fazer de nossas palavras ditas pelo mundo um segredo novamente aberto na noite em que passamos fazendo o que existe de melhor.
Fazer dos caminhos morais uma estrada que logo abandonamos para que árvores lhe tranquem totalmente. Pegar os nossos filhos no colo e contarmos lindas historias para que eles sigam pelo próprio caminho. Implantarmos novos valores em nosso lar que antes estava dividido por ter faltado o nosso reencontro aguardado por milênios.
Mesmo que palavras não sejam pronunciadas ainda conseguimos identificar os mais doces pensamentos que vigoram em nosso templo. Tentamos de tudo para que o nosso melhor seja reconhecido como o agente de mudança para muitas pessoas. Preparamos o alimento de nossa maneira tão especial, tão afetiva, tão devastadora aos olhos de quem enxerga apenas defeitos nos outros sem olhar para dentro de si mesmo.
Adormecemos como velhos poetas que mesmo embriagados conseguem sensibilizar o coração das tantas mulheres carentes, adormecemos como velhos ouvintes que quando falam são fundamentais para que uma compreensão aguçada seja possível. Sorrimos do alto da sacada sem nos importarmos com quem inveja o nosso amplo caso de amor, o nosso empolgante jantar que se repeti como se fosse pela primeira vez. Nenhum segredo é tão forte como o nosso por ser a clareza do mundo que aos nossos olhos é diferente, é bem conduzido, é fundamentalmente a essência de todas as coisas definidas através do amor.
O que agredi não tem espaço em nossas vidas que carregam tanto tempo, tantas tempestades, tantos dias de sol, tantos luares, tantas loucuras. A liberdade que tanto buscamos está dentro de nós e em nossa lei afetiva estendemos a mão enquanto não temos gosto em recolher o que entregamos para que o nosso mundo seja melhor. Da mentira que vivíamos não tínhamos prazer quando formamos o lar fizemos da verdade um profundo desejo de transformarmos todos os valores.
De pensamentos passamos para sentimentos, de ações fazemos dos sonhos a ponte para novas realidades. A solidão tem a sua ternura quando é um intervalo refrescante para que possamos retornar e abraçar os nossos amores. Exageramos na alimentação para que possamos fazer da gula algo rico, da riqueza algo de dentro ao encontro do que existe por fora, da nobreza algo que dança ao redor da fogueira sem se importar com aqueles que não sabem dançar e saem queimados reclamando de nossa insanidade.
Escritor Joacir Dal Sotto