QUEM CONVIDA, PAGA

Vejo tanto descritério nesta seara, que resolvi escrever sobre. Em primeiro lugar, é preciso distinguir: CONVIDAR é uma coisa, PROPOR PARCERIA, outra. Se convido alguém para um churrasco em minha casa, por exemplo, eu pago. Se proponho a um grupo a participação em churrasco e apenas ofereço a casa aí é outra história. Se convido um casal de amigos para um final de semana em minha casa de veraneio ou de "invernada", eu pago; agora, se combino uma estada por lá para algo que seja do interesse especial do casal e ele se oferece para dividir a comilança, até posso aceitar a divisão de certas despesas extraordinárias. Convidar alguém para almoçar ou jantar fora e dividir a conta é o cúmulo da deselegância: só vale se for consenso prévio, pois, então, será simplesmente parceria, o que é comum, nada de anômalo, desde que fique claro. Não posso convidar parentes para confraternização ou entretenimento cuja despesa seja um pouco mais expressiva e tentar dividir com alguns, só porque eventualmente ganham bem, livrando outros não tão aquinhoados: melhor não convidar. Teu filho é dono de um Banco? Azar, meu caro, a empresa é dele e não tua, convidou tem de pagar. Se não estás "apetrechado", não faz, fica no teu feijão com arroz, que não vai cair o mundo. Na parceria, aliás, todas as decisões de programação são comuns. Se você acha que vai sair caro ou que seus recursos não são abundantes ou suficientes, não tem problema, engendra alguma coisa mais acessível que tudo fica bem. Mesmo que seja pra comer um rodízio de pizza no restaurante da esquina. Se você quer ser lembrado como pessoa minimamente justa, aja assim. "Vaquinha" é para festa jovem ou para quem, de baixa renda, deseja reunir familiares e amigos, tudo bem, vale. No mundo moderno e de dificuldades econômicas crescentes, é bonito que as pessoas colaborem para o pleno sucesso do entretenimento, seja simples refeição, festa, viagem, seja o que for. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. São comuns aniversários em restaurantes com os convidados pagando sua própria conta: isto me agrada cada vez menos, embora não haja muita alternativa para reunir muita gente amiga. Mas, vejam bem, é o aniversariante que impõe o local e o cardápio, o que pode não agradar. É normal participar, assim como também não comparecer. Com meus pais, já velhos, nós, os filhos, é que bancávamos geralmente os churrascos ou refeições. Era algo natural. Agora, se você é muito, muito econômico, recomendo que faça como me contou o amigo parisiense, Gérard Bony, há uns 5 anos: ele, hoje com 77 anos, casado com Martine, 74, sem filhos. Passaram trinta dias de férias nos Alpes franceses para fazer ski na neve. Alugaram uma cabaninha tri barata, mas levaram tudo, cobertores, lençóis, travesseiros, louças, malas pesando cem quilos, para economizar. Eles próprios faziam a limpeza e tudo o que necessário fosse. O ônibus deixou-os a uma boa distância da pousada e, portanto, foi uma prova radical de resistência transportar os badulaques. Martine, lá pelas tantas, cansou e Gérard fez duas viagens a pé para carregar toda a tralha do casal. O entusiasmo com que ele me narrou a indiada e as façanhas que perpetrou no ski me deixaram fatigado. Apesar de adorar a França, a neve, os Alpes, nunca abraçaria a odisseia: nem me pagando. Aí, você pode me convidar à vontade, sem qualquer risco de custo. Agora, se me convidar para um banquete em sua casa e, ao final, tentar dividir a conta, vou aceitar constrangidamente, mas marcarei na paleta. Como reza o adágio português: "Quem não tem competência, que não se estabeleça".