AVENTURA NO MUNDO DAS LETRAS
Sempre afirmei que sou apenas escritor amador. Para ser profissional, é preciso suar a camiseta por muitos anos, arrombar várias portas e possuir algum dom de Paulo Coelho, digamos. O meu livro de crônicas, Brumas de Xangri-lá, lançado em 1998, primeiro, na finada livraria do Globo e, depois, na Feira do Livro de Porto Alegre, teve ótima repercussão no meu mini mundo de leitores, mesmo assim, não deve ter vendido mais do que seiscentos exemplares. Meu segundo livro, talvez não tão interessante quanto o primeiro, mas mais caprichado, foi o Aconteceu num Verão, de 2005, lançado, primeiramente, no Hotel Plaza São Rafael e, depois, também na Feira do Livro. Não vendeu mais do que quinhentos exemplares. Nos dois casos, tenho de agradecer penhoradamente aos bons amigos que me prestigiaram em grande número em todas as sessões de autógrafos. Depois dos lançamentos, foi aquela coisa de sempre: falta de marketing, péssima distribuição e imensa dificuldade de coloca-los ou mantê-los nas prateleiras das livrarias. Para o vendedor de livros, que, afinal, é um comerciante, todos os gatos são pardos. Se você não tem um grande suporte e não é uma celebridade, fica difícil. Geralmente é assim e as exceções justificam a regra. O profissional das letras tem de ser, sobretudo, um teimoso e minha teimosia sempre tive de dividir em várias áreas. Por isto, entendam os amigos o porquê de meu pouco ânimo de lançar um novo livro, a despeito do fato de já possuir material. Por outro lado, não tenho talento e nem gosto para escrever romance, gosto de crônicas e ponto final. Mas e por que agora, então, este assunto? É que estava eu esquecido dos meus livrinhos, quando, ontem à noite, minha irmã me telefona ansiosa para saber como poderia conseguir algum exemplar do meu último livro Aconteceu num Verão, onde, dentre as crônicas e um conto, escrevi uma breve epopeia de meu avô português espírita, José Simões de Matos, mais uma ou outra narrativa inspirada em fatos do espiritismo, uma historieta de colorido budista e, a melhor de todas, uma façanha de meu pai. Meu pai, nos primórdios de sua vida profissional, no Arroio dos Ratos, aguardava o final de uma cesariana realizada por dois colegas. A criança nascera morta e já estava jogada num balde, que servia de lixeira. Como os colegas demoravam, empenhados em salvar a vida da mãe, resolveu realizar alguns procedimentos com o bebezinho. Lá pelas tantas, para o espanto geral, a menininha reanimou-se e sobreviveu. Anos mais tarde, num comício político na região, a mãe da menina apresentou-a a meu velho, num reencontro bem emocionante. Enfim, parece que pessoas da Sociedade Espírita PAZ E AMOR, que conheceram ou que muito ouviram falar de meu avô, que foi por muitos anos dirigente e palestrante da entidade, assim como foi também Presidente da Federação Espírita, andavam tirando xerox de um velho livro meu. Minha irmã, então, queria algum exemplar para levar hoje até aquela entidade. Só me custou um pouco de esforço físico para remexer nas tralhas da minha garagem aqui do prédio, de onde extraí, intacto, um pacote de quarenta livros. Mais uma aventura no mundo das letras.