O eterno retorno dos reflexivos
Nos tempos atuais nada de muito novo é possível perceber além do ego que cada indivíduo é capaz de contemplar. As frases são curtas para que alguns tenham mais tempo, a compreensão do que não compõe o ego da maioria é difícil por faltar espaço para coisas complexas, a arte é considerada bela pela maioria quando não exige o esforço da mente para que uma profunda reflexão seja feita. De verdades absolutas o inferno está cheio como também está desgastante a vida nos céus, é que não existe amor em ouvir tudo calado, é que não existe amor em seguir sem questionar.
É preciso dar um basta na pressa exagerada que surgiu após a revolução industrial e pararmos de enxergarmos o mundo com um único olho que não seja o olho do coração que bate em nome de grandes sonhos que estão brilhando nos indivíduos que nasceram livres. O fanatismo mata muitos idiotas e o silêncio é o veneno da alma humana que precisa dos instintos para provar que prazeres e desejos fazem parte do processo de elevação. Não precisamos passar uma vida de segredos para que na morte possamos descobrir que a morte súbita de alguém serve de aviso que o mundo não para depois de partirmos.
Com tranquilidade podíamos caminhar pelos campos desertos quando tínhamos uma juventude física divina, o que não podemos é caminhar pensando que a juventude física terminou com os sonhos, o que não podemos é caminhar pensando que o futuro será de incertezas caso sejamos loucos o bastante para arriscarmos penetrar em uma doce realidade. O que resta para o solitário são valores que ele consegue exalar, o que resta para quem pertence ao comportamento de rebanho é um gigante esforço para sempre ser igual, o que resta para o solitário que sai da solidão por amor aos homens é uma luz gloriosa que vai além de sua vida carnal para ecoar eternamente ao redor do mundo. A prisão emocional da época atual é apenas um sinal de que quem não sofre não receberá ajuda enquanto escolher ficar esperando pela salvação divina, enquanto escolher ficar chorando pelo passado de decepções amorosos diante tantos preconceitos morais.
O bom de conseguirmos perceber a totalidade de coisas que assombram grande parte da sociedade é que um dia veremos o fim, é que um dia lembrarão de nossos dizeres, é que um dia os tolos estarão mortos, é que um dia retornarão fortes e fracos, é que um dia veremos novamente que escravidão é uma necessidade, como também é essencial ter senhores que estão além do bem e do mal sem serem taxados de anticristos. Em cada frase bem compreendida muitos livros são criados, em cada ego existe a facilidade do novo, em cada arte existe o sangue do artista que faz sofrer como também o amor do artista que é usado como o despertar de um público atento. Temos verdades por todos os lados, o que não temos é sabedoria em todos aqueles que buscam pela luz, o que não temos é espaço para as pessoas medíocres que não chegam ao extremo da bondade ou maldade.
Impossível é ensinar o ato de ser livre ou querer dizer que após a abolição da escravatura temos uma maioria livre, possível é sonhar e realizar, é querer ir além da moral que tenta limitar o caminhar daquele que nasceu para fazer a diferença em seu próprio mundo e ao mesmo tempo nasceu para sacudir o mundo que detém um poder defasado. Quem discorda de algo e acredita estar certo do caminho que leva ao abismo ou ao topo da montanha precisa apenas seguir com seus próprios valores, com suas próprias experiências, até que o processo de glória ou fracasso seja concluído. Enquanto estamos com vida é essencial que façamos o nosso melhor, mesmo que o preço pago por tantas loucuras e exageros seja aprender com a queda, se o que não mata é fortificante, que possamos dar vida ao novo, vida ao que experimentamos além de nosso ego.
A paz irrita da mesma maneira que irrita quem foge da batalha que foi anunciada nas profundezas dos jovens corações, que sejamos belos no ato, fortes para suportarmos a dor, superiores para superarmos os obstáculos e inquietos diante das melhores condições para que sempre possamos estar além do ideal. O que muitas pessoas fazem é medíocre, o que poucos fazem é se alegrarem interiormente sem necessitarem da moral para serem aplaudidos, sem necessitarem do erro para aprenderem diante o que ouvem como fonte de reflexão. Que seja dada água ao faminto para que ele seja capaz de reunir energias e venha com o copo de água para tornar a si mesmo ainda mais forte, que seja gritado nos ouvidos de quem diz ter a mesa farta para que possamos testar se o poder é verdadeiro ou se é mais uma entre tantas morais cercada de idiotas que se reúnem diante das próprias fraquezas.
Escritor Joacir Dal Sotto​